Simples assim


À medida que o mundo vai evoluindo, as invenções de todas as áreas já não são mais tão surpreendentes, e sim, esperadas. Lembra quando o primeiro celular virou realidade nas mãos dos usuários? Foi um tititi! Até então, o mais real que a nossa visão sobre o futuro dos avanços tecnológicos alcançava, era colhido no cotidiano da família Jetsons.
Ainda não chegamos à era das cidades suspensas, nem dos carros voadores. Sinto não viver a tempo de possuir uma robozinha graciosa vestida de avental e touca, supereficiente nos serviços domésticos. Mas a coisa anda tão avançada que não me espantaria caso inventassem o teletransporte. Tipo, “vou para casa da mamãe”, programo o GPS da mente e, em milésimos de segundos, estou na cozinha dela tomando café.
...

Exagerada, eu? Pois saiba que todo e qualquer suposto exagero no que diz respeito à física quântica não é nenhum exagero.
Contudo, em meio a este burburinho evolutivo, venho percebendo que as coisas simples estão sendo, naturalmente, descartadas e guardadas na estante das coisas desinteressantes. Se não for digital, 3D, 3G (agora já é 4G), tá fora! E isto me preocupa.
Não estou querendo reativar o celular modelo tijolo, que foi do meu pai e que repousa surdo e mudo no armário das relíquias estimáveis da minha mãe.  Refiro-me à simplicidade do comportamento das pessoas que, misturadas aos avanços científicos, acabam complexando o próprio jeito de ser e de viver para se enquadrarem no contexto. Cria-se teoria científica para tudo, e para cada teoria criada compõe-se um título pomposo que, por sua vez, é subseguido de vários subtítulos mais espetaculosos ainda. Porque não há mais espaço para a singeleza numa sociedade super evoluída.
O chazinho caseiro, o unguento de basilicão, a compressa de água morna, o pé na areia, o banho de cachoeira, a experiência dos mais vividos, a conversa ao pé do ouvido, tudo isto está ficando prosaico demais. Tanto que, quando me dou conta, estou morrendo de saudade de experimentar a trivialidade e jogar para o alto a dieta esplendorosa.
...
Dia desses, meu filho contou exultante que a professora havia lhe dado um elogio diante de toda a turma, dizendo que o seu comportamento estava exemplar. Na última vez que vi aquele brilho faiscante em seus olhos, ele acabara de ganhar um novo jogo de videogame. Então pensei: Poxa que bacana! O elogio da professora é tão emocionante quanto o último lançamento do Mortal Kombat. Meu lado mãe vigilante de filho estudante pode tirar um merecido descanso, uma vez que - aposto minha coleção de canecas – ele vai querer manter aquele elogio até o fim do ano letivo.
Simples assim, um elogio sincero, uma palavra mágica, um telefonema aguardado, um cafuné inesperado, um toque de mão desejado, um sorriso surpreendente, um presente fora de hora. Atitudes banais são capazes de despertar a autoestima, resgatar a autoconfiança, encaminhar uma carreira, auxiliar numa decisão, mudar o dia e a vida inteira de alguém e, o que é melhor, poupar anos de psicanálise. Coisas que não possuem nenhum componente de última geração, pelo contrário, são da geração dos avós, bisavós e tataravós dos personagens desta era digital , mas que sempre foram poderosos estimulantes do nosso sistema sensorial.
...
Assistindo ao filme “Tron: O legado” com meu filho, o mesmo aficionado de videogame, não pude deixar de sentir uma nostalgia e um medo danado de que, num futuro muito próximo, as pessoas escolham existir virtualmente. Com imagem, som, inteligência de última geração. Sem falhas, sem chuviscos, sem distorções ou interferências, sem emoção. Antevi, durante o filme, o planeta sendo habitado por Smart Pessoas ou Smart Peoples, como acharem melhor, e me escondi debaixo do cobertor. Meu filho não entendeu nada, afinal, o filme é de ficção científica e não de terror. Atualíssimo para cabecinha dele, apavorante para cabeça de sua mãe.
Enfim, não sou louca de ordenar “meia volta volver”! Concordo em seguirmos adiante, rumo ao futuro fantástico que se escancara logo ali na nossa frente, mas sugiro que não abandonemos a simplicidade da sensibilidade, pois o que corre em nossas veias ainda não é fluído nuclear gelado, é sangue vermelho e quente. As emoções não necessitam de óculos especiais para serem vistas e sentidas. O elogio, o beijo, o abraço, o carinho, o amor, possuem o poder de ultrapassar as barreiras do espaço e tocar o corpo e a alma de quem vê, dá e recebe, assim, como sempre foi, a olho nu, numa Dimensão que ultrapassa anos-luz a de número 3.

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CONVITE

 

Talvez nunca conheça Cuba, mas não morrerei sem ter experimentado um legítimo charuto cubano.
As expências que pintam a vida podem ser reais ou abstratas, mas nunca em branco.




Entre sem bater
Espie na luz dos meus olhos
No recôndito do meu ser adentre.
Mergulhe!
Encontre a minha alma, estenda-lhe a mão
Passeie com ela
Viaje!
Abra o mapa, verás meu coração.
Chegue perto e pulse com ele
Acompanhe o seu ritmo
Dance!
Não precisa bater, entre!
Descubra os sentimentos e converse com eles.
Sinta!
Ao seguir, olhe apenas...
Irás entender
Que a alma vagueia
No coração descansa, bebe, se alimenta
Abastecida parte à nova mente.
Entenda...
Sou abrigo da alma
Porto de um coração
Guarida dos sentimentos
Regido pela mente.
Percebe...
O que vês é só pintura
Os verdadeiros moradores estão lá dentro.
Se os quiseres conhecer
Volte sempre!
Entre!
Não precisa bater.

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Menino ou Menina?



QUANDO meu filho tinha quatro anos, escolheu de presente de Natal um boneco. Não um super-herói ou um guerreiro lutador, viril e invencível. O presente que ele desejava era um bebê de fralda que tinha um pintinho charmoso e fazia pipi numa privadinha azul.
Ou seja, apesar do pinto e da privada ser azul, meu filho me pediu um brinquedo de menina. A minha primeira reação ao seu pedido foi: HELP! Preciso de ajuda!
Após reunião familiar, com presença de psicóloga, meu filho (alheio às neuroses dos adultos), recebeu na noite de 24 de dezembro a presença do velhinho de barbas brancas que fez o papel de cegonha, trazendo para nossa casa Baby Junior. Todos bateram palmas quando o embrulho foi desfeito e Junior surgiu lá de dentro, já sentado em sua privada. E eu desejei, secretamente, que os familiares e amigos em volta percebessem que o bebê tinha um pinto, que a privada era azul e que meu filho era um menino como qualquer outro, apesar de não ter escolhido ganhar o quinteto dos Power Rangers.
Durante os dias em que me pus a analisar as consequências da vinda de Baby Junior para nossa família, regressei no tempo e me vi na mesma idade em que meu filho tinha, brincando com o forte apache do meu irmão, repleto de índios malvados e soldados machos e valentes... Afundada na areia da praia fazendo garagens e estradas para a frota de carrinhos... Ajoelhada na calçada, em posição nada feminina, jogando bolinha de gude. Então pensei: Bem-vindo, Baby Junior!
Não me lembro dos meus pais ficarem chocados ao me verem participar das brincadeiras dos meninos. Isto não causava espanto, muito menos preocupação. Porém não gosto nem de pensar o que aconteceria na hipótese de meu irmão ter pedido, naquela época, um bebezinho fofo e pelado, ao Papai Noel.
De lá para cá, algumas coisas mudaram. Os pais continuam preocupados com o atestado de masculinidade dos filhos, todavia garantir a feminilidade das filhas foi acrescentado ao “roll” de inquietações. Tudo isto porque, desde sempre, o mundo não foi feito somente para os  heterossexuais (como se acreditava que tinha que ser).
Os homossexuais sempre existiram e estão aí gritando cada vez mais forte e em maior quantidade, pelo seu espaço. E neste clube menina também entra.
Milhares de meninos e meninas têm assumido que a sua preferência sexual não é pelo sexo oposto, como foi convencionado. E quer saber? Não quero me ater às causas biológicas, psíquicas, sociais, emocionais. Nem saber das conjecturas que pouco tem esclarecido sobre a raiz do “problema” que, para mim, não é problema. Procuro apenas entender o coração destes meninos e meninas, homens e mulheres, que os faz diferentes das outras pessoas, mas não os tornam causadores de mal ao mundo.
Prefiro refutar a hipocrisia de uma sociedade falsa que reverencia os cafajestes, ovaciona personalidades medíocres, endeusa ladrões, absolve os assassinos, ignora os corruptos. Mas julga, condena e despreza os homossexuais.

(Esta crônica faz parte do meu livro Na sala de espera que lançado me breve.)

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ENIGMA


  VOCÊ É A PARTE QUE ME FALTA
               EU SOU A PEÇA QUE LHE COMPLETA
     VOCÊ É A DEFINIÇÃO DA MINHA IMAGEM
                  EU SOU A CONTINUAÇÃO DO SEU PEDAÇO
    VOCÊ É A FORMA QUE EM MIM SE ADAPTA

             EU SOU O MOLDE EM QUE VOCÊ SE ENCAIXA.

       SEM VOCÊ SOU IMPERFEITA

                       VOCÊ SEM MIM FICA PERDIDO

            SIGO ASSIM INACABADA

                      VOCÊ CONTINUA DESFEITO

               PEÇAS SOLTAS SEM SENTIDO

      PROCURANDO EM VÃO FORMAR A IMAGEM

                            DO DESEJO REPRIMIDO.

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Campanha do lixo literário


Não sou o tipo de pessoa que mete a colher na panela alheia. Costumo respeitar a maneira de ser e de agir de cada um e, da mesma forma, preservo o meu direito de ser e agir como bem entender.
Mas o assunto do qual vou tratar é conteúdo da minha panela. A gororoba do meu dia a dia, a entrada, o prato principal e sobremesa. Então, me deem licença, pois estão prostituindo a literatura e eu vou ter que meter a colher!
Não estou me referindo ao fato da maioria das pessoas não saber escrever corretamente, até porque isto não é nenhuma novidade. Estou anunciando que estão escrevendo porcaria (pra não dizer coisa pior) a fim de chamar atenção, se utilizando de palavras toscas e fuleiras para se fazer ler.
Só posso atribuir a criação desta moda reles às redes sociais, onde a busca enlouquecedora por ser seguido ou “twitado” desconfigurou o programa da ética e reinstalou, nas mentes dementes, o prazer do podre, do asqueroso, do vil. Pois, como pude perceber, são os donos das melhores “inhecas” de teor obsceno e vulgar que lideram o ranking. Uma nojeira!
Li outro dia no Twitter, frases de uma garota de fazer satanás corar. O perfil da menina, que não devia ter mais do que 17 anos, já era um soco no estômago da boa educação. Coisa do tipo: Fulana de Tal do Caralho.
Me senti tão mal lendo as frases picantes e pejorativas que rolavam em frente aos meus olhos que me desconectei imediatamente, antes que o vírus da baixaria pudesse me infectar.
Quer saber quantos “tweets” ela tinha? Muito mais de 1000.
No Facebook a coisa não é tão escrachada, mas, ainda assim, vira e mexe, alguém resolve compor um pensamento sacana, com algumas palavras e expressões que, até então, só eram utilizadas por pessoas desprovidas de qualquer nível. E a pior notícia é que quem comanda, mais uma vez, a lista dos malcriados da rede são as meninas.
Elas estão adotando o idioma do malandro, do morro, da favela, para expressarem sentimentos de forma chula e desagradável, achando que assim irão chamar atenção para si.
E chamam mesmo, porém - posso estar quadradamente equivocada – garoto nenhum quer namorar uma malandrinha desbocada. Pode até ficar e fazer todo o resto, agora, se apaixonar só por coisa bela.
E não estou me referindo à beleza física, porque isto a meninada desta geração tem de sobra. Mas não consigo deixar de imaginar estas bonecas falando palavras como porra, foda, fudeu, rabo, caralho...sem ver sua beleza se desmanchando instantaneamente sob o efeito ácido dos palavrões.
Prefiro pensar  que elas somente se dão ao lixo de exalar imundície por se tratar de palavras escritas. Quero acreditar que tenham coragem de escrever, mas que na hora de expressá-las com a voz, o lado feminino fale mais alto e as faça “amarelar”. Contudo, rezo mais do que creio.
Não pensem que estou absolvendo os homens ou que considere que para os rapazes estes tipos de expressão sejam atrativos. Cheira mal igual! Mas, na pior das hipóteses, não são tão surpreendentes e chocantes. Podemos atribuir a culpa ao machismo, à rudeza do sexo, enfim... Mas às mulheres, só posso pensar ser o fim de todo e qualquer romantismo remanescente.
E como não posso ficar calada, omissa, petrificada, enquanto estão azedando o paladar da literatura que alimenta a minha alma, deixo um recado aos pseudo-escritores.
Menina, garota, moça, senhora e homem de qualquer idade, lugar de lixo é na lixeira. Colocou no papel? Amasse-o, rasgue-o, queime-o. Colocou na net? Delete. Colocou na mente? Cale a boca. Caso contrário quem vira lixo é você.

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Estilo ‘Ser Humana’



Hoje me peguei a pensar em que modelo de vida eu represento. Qual o estilo social pré-definido eu me encaixo melhor.
Sabe quando alguém olha para uma roupa e diz: “é a sua cara”? Pois é, ando procurando qual é a minha cara na vida, porque cheguei à conclusão que todo mundo tem uma em particular - feito um disfarce - e tende a se esconder dentro dele até que a morte venha arrancá-lo de lá, levando-o nu.
Tentando me enxergar através do espelho da consciência, aquele que não reflete nada mais do que o nosso interior, fiquei ainda mais confusa do que ao iniciar minha busca sobre o que represento nesta passarela de papéis.
É que, contrariando tudo aquilo que esperam que eu seja, sou tudo o que querem eu seja e tudo o que querem que não seja também.
Sou filha para minha mãe; irmã para meus irmãos; mãe para meus filhos; amiga para os amigos; amante para os amores; profissional para os patrões; contribuinte para o governo; eleitora para os políticos; cliente para os comerciantes; escritora para os leitores... E a lista não acaba aqui. Ela vai até onde exigirem que eu seja e eu sou.
Contudo, não posso me ocultar atrás das conveniências agradáveis aos seres que se dizem humanamente corretos, pois as faces que tenho vão até onde não gostariam que eu fosse, mas sou.
A frágil e amanteigada mulher, que por incontáveis vezes, se derrete e tem a fatídica impressão de que jamais irá se regenerar. E necessita de alguém, ou de uma forma, que lhe devolva a consistência e a modele outra vez.
 A intempestiva emocional que, mais vezes do que gostaria, perde o controle do volume da voz; da intensidade das emoções; da localização da consciência e de si mesma. E solta os cachorros sobre o primeiro que resolve invadir os portões da sua paciência e tolerância.
A depressiva sem causa, que entristece sem motivo e por qualquer motivo, e sente que passar o dia na cama seria o melhor remédio. E, quando levanta, arrasta os pesados e deprimentes quilos de exaustão de viver a vida que lhe parece, vez ou outra, sem sentido.
A neurótica obsessiva, que quer matar a poeira que tomou conta da sua casa e se assentou por todos os cômodos, sobre todos os móveis, mas nem sempre tem coragem suficiente de se armar de vassoura e pano para acabar com a intrusa indesejável e suja.
A preguiçosa assumida que, tantas e tantas vezes, adoraria que não existisse trabalho e muito menos as obrigações financeiras que obrigam que as pessoas tenham uma profissão e um cargo que lhes confere salário, status e uma posição social que não se sabe direito para o que serve.
A desmiolada, inconsequente e louca que, incontáveis vezes, desejou jogar tudo para o alto se lançando junto numa viagem sem roteiro, sem passagem, sem ida nem volta. E culpa escancaradamente a covardia por lhe roubar o passaporte.
A problemática que, vira e mexe, não sabe muito bem como resolver as suas próprias questões “vidamáticas”. E reza para que Deus e toda a equipe celestial lhe prestem a consultoria necessária e tragam a solução.
A fútil que, mais de uma vez, gastou mais do que devia e comprou coisas que sequer necessitava. E em segredo com seu com o cartão de crédito se deixou seduzir pela volúpia da marca, o que lhe custou disparatadas parcelas mensais.
A piriguete que, em alguns momentos, pecou no figurino e na falta de comprimento da saia ou no exagero do decote, do batom, da maquiagem, do salto, da bolsa, das atitudes, de tudo que parecia ter sentido, mas que não tinha sentido algum, que não fosse exagerar.
A insensível e fria que, em alguns momentos, magoou alguém e seguiu caminhando, por não sentir a dor no coração que não era seu. E por não sentir a dor, sequer cuidou da ferida, só rezou para que cicatrizasse.
A má, a vil, a frívola, a egoísta, a vulgar, a fraca... Não posso fingir que não existam estas caras em mim.
Posso garantir que luto incansavelmente contra todas as facetas perversas que me habitam e que, na maioria das vezes, sou a mocinha e não a vilã. Mas, daí, a me fazer de santa, pura, casta e perfeita, é vestir o traje da hipocrisia, e este não me caí bem.
Não almejo ser hit, muito menos ser seguida, adoto o estilo normal com o qual me identifico e opto pelo modelito ser humana.
E, se neste mundo houver modelos sacros, me provem que são legítimos que, aí, eu ajoelho e rezo.




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GO HOME!


                
Outro dia conversando com uma amiga pelo MSN (quando estamos sensíveis a emoção aflora até numa conversa teclada apressadamente), ela digitou em letras garrafais cor de rosa: “É QUE SOU ROMÂNTICA!”
Não pensem que a minha amiga estava querendo descrever com esta frase piegas o seu amor mal resolvido por algum rapaz latino americano insensível, com dinheiro no bolso. Ela se referia ao romantismo de viver a vida em clima de paz e amor com todos a sua volta. Bicho!... E gente!
Por longos minutos eu e minha amiga ficamos tricotando, com os fios invisíveis da internet, sobre as características destes seres romanescos, aparentemente patéticos e sua árdua sobrevivência nesta terra de monstruosas e maléficas criaturas práticas, racionais, frias, e, na maioria das vezes, inescrupulosas.
Coisas de quem está em casa à noite com um laptop no colo, sem nada mais produtivo a fazer, você poderia pensar, caso fosse um ser racional. Mas se você também é um dos últimos românticos dos litorais deste oceano atlântico, sabe que conversas deste tipo saem dos corações cansados destas guerrilhas pessoais que se tem que travar a todo instante no mundo.
Porque quem é romântico ainda cultua o estranho hábito de acreditar nas pessoas a sua volta. E o pior é que, por conta disto, abre seu coração como se fosse um livro para que leiam; certo de que o interpretarão corretamente.
O romântico acredita que o amor sempre vence; que a boa intenção sempre prevalece e que a verdade sempre aparece. Mesmo que esteja gravemente ferido por conta das insensibilidades alheias.
Romântico é quem defende com unhas e dentes a teoria que diz que é preciso plantar amor para colher amor; paz para colher paz; felicidade para ser feliz... E que o inverso também é verdadeiro.
Quem é romântico não participa de conchavos; não faz parte de negociatas; não faz pelas costas; não cala e nem consente.
De forma prática, romântico é alguém que não sobrevive a um cargo público e muito menos político. Porém acredita piamente que o mundo poderia ser diferentemente melhor. E se decepciona.
Assim, não só me compadeci do seu sentimento da minha amiga, como me identifiquei inteirinha com ela.  Com meus dedos apressados tentei expressar isto no nosso diálogo virtual: “Será que os românticos são espécie em extinção?”
Será que teremos que nos adaptar a este habitat cada vez mais mecanicista; individualista; oportunista e todos os “istas” mais que houverem?
Nossa conversa acabou sem resposta. Encerramos com um OFF e uma pulga gorda atrás de nossas orelhas.
Serão os românticos a nova geração de ET´s deste planeta?
Go Home!


(Esta crônica faz parte do meu livro 'Na sala de espera 'que será lançado em breve.)


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Guardado


Deixa num quarto guardado.
A lua em quatro desaparece
Se pensa que ela morreu, esquece.
O belo nem sempre se mostra
E existe.
O mistério que ronda a noite
É a luz que se escondeu
E existe.
Deixa guardado no armário.
Esconda a chave
Acenda o escuro
Sussurre.
O amor escondido
Não é o bandido
É facho de luz.
Pra sempre guardado
Não aparece
E existe.

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SEMPRE




 
O que é sempre?
Se sempre a gente sente
Que ele nunca chega a ser um momento presente...
O que é o presente?
É o sempre que chegou
E a gente nem sempre sente.

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Ébrio



Vem à tona de repente
Entre goles de solidão
A imagem da volúpia
Que embriaga a emoção.

Demônio do desejo
A possuir sem merecer
Saciando com escárnio
A sede de querer.

Alma quente e ébria revela
O que a sobriedade segreda em vão
Na boemia que o coração se perdeu
O vício maldito se chama paixão.

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..RETICÊNCIAS...


Veio falar-lhe. Volta e meia isto acontecia. Ela não sabia de onde vinha, apenas que surgia sempre que parava para conversar consigo mesma. Quando as reticências interrompiam o ciclo e impunham a descontinuidade ao seu ser.

_ Com o tempo a gente aprende como são necessários os três pontos no meio da vida... Quando já não se sabe o que dizer ou como agir... E ainda há tanto a falar e fazer...

Assim discorria. Fazendo longas pausas no meio da conversa. Utilizando-se dos três pontos para dar vez aos pensamentos.

_  Viva intensamente, mas não ignore estes momentos... Não tente apagar os três suaves pontos para por logo uma interrogação, uma exclamação ou um ponto final. Permitas-se, as vezes, ser simplesmente reticente.
Ditava suas próprias teorias nas quais os três pontos colocados lado a lado significavam mais do que ausência do que dizer. Criara um pequeno espaço no tempo para guardar inúmeras possibilidades.
Momentos necessários entre uma ebulição e outra... Um chiar de emoções sem voz... Uma descoberta silenciosa... Um desejo contido... Uma angustia escondida... Um grito camuflado... Uma pausa no meio do caminho... Um discreto vapor invadindo o ar, anunciando que a fervura se deu... Um tempo...

_  Sábio é aquele sabe usar as reticências para enriquecer sua sabedoria.

Acabara de ouvir a voz do invisível... O que não queria dizer que era louca... Sentia-se plenamente normal numa noite de domingo... Amanhã seria segunda e tudo estaria diferente... Teria dado uma pausa no meio da vida para ouvir-se... Somente... Alguém falou com ela... Não sabia dizer quem foi... Ainda se encontrava reticente...

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Metamorfose

                            
Seda me reveste em fios.
Emaranhado a proteger-me
Do sol
Da chuva
Do céu que não vejo
Do frio.
Casulo escuro, mas quente!
Envolve-me
Confunde-me
Sem perigo iminente.
Não grito, escuto
Não corro, repouso
O que ouço, silencio.
Sem desespero espero
Que a metamorfose aconteça.
Rompendo-se num lampejo
A lagarta desapareça
Arriscando-me aos céus, me vejo
Voando livre, borboleta.

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Desejo que você queime





LINDAMENTE poetizaram que a paixão é chama. Então, há muito aprendemos que, como chama, a paixão se apaga.
E o apagar deste sentimento ardente, deste calor vivificante, desta loucura revigorante, na maioria das vezes acontece, imperceptivelmente, devagarzinho. Como se uma brisa mansa, mas perversa, soprasse um pouquinho a cada dia, até extinguir completamente o fogaréu sentido.
Quando a gente dá por si está no meio do amontoado de cinzas soprando para ver se encontra uma fagulha perdida que reacenda o fogo e todo o resto.
Muita gente prefere guardar para si este acontecimento, escondê-lo embaixo das cinzas e seguir soprando.
E o que vem a ser isto, senão mais uma prova de que as pessoas vêm dispensando os sentimentos? Mais uma amostra de que na estatística da vida está cada vez mais fácil descartar o SENTIR?
Tem gente que consegue viver sem tremer, sem ferver, sem desejar, e contenta-se em desfrutar a insipidez da chama branda, que aquece, mas não queima.
Ao folhear os poemas do passado e ouvir o brado dos poetas apaixonados, me ponho a indagar: Onde foi parar este amor ardente? Por onde anda este sentimento desvairado que vivifica a alma e alimenta o coração? De onde vem este sopro forte que está apagando as emoções?
Não me diga que é a cara do futuro que chegou para morar aqui. Não me fale que é a culpa do tempo que fugiu de nós. Não se justifique como um sobrevivente pós-guerra que só sabe lutar. Não quero me unir a esta legião.
Digo-me poeta, escrevo aos corações as cartas ditadas pelo meu.
Então decreto que o calor inflame, que a chama queime e que o amor arda até que ela se apague.
E ao apagar-se – posto que não seja infinita – não se extinga feito cinza, mas fulgure como faísca. Pronta a acender a um soprar mais forte.
E quando ao coração não restar mais o ar que à paixão incendeia, que ainda assim seja brasa, para aquecer a morte.

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Inteira



Deixe que  escorregue entre seus dedos
e me derrame inteira.
Que as mãos afaguem minh'alma
sem que precise prendê-la.

Permita que fale ao seu coração
com as palavras que guardo no meu.
Que seu coração apenas o ouça
sem julgar minha emoção.

Liberte a alma aprisionada
para que ela possa enfim voar.
Não no vôo que imaginas
que a liberdade não é fuga,
porém prendê-la é matar.

Seja inteiro e único
e aos seus conceda-os ser.
Pois existir só aos pedaços
é se deixar respirar
na ilusão de viver.

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Aqui e agora

Quem mora no litoral, ou melhor, quem curtiu a infância e a adolescência na beira da praia, certamente possui momentos inesquecíveis na lembrança.
Lembro-me da sensação de afundar nas ondas do mar por horas a fio. Dos dedos murchos por conta do banho exageradamente demorado e do cheiro de sal grudado na pele seca no sol, feito charque.
Sinto, como se fosse hoje, a dor da areia fina açoitando minhas pernas magrelas em dias de vento sul. Às vezes o vento virava e trazia com ele - do norte ou nordeste - a chuva.
Aprendera isto com meu pai, tão bom pescador quanto contador de histórias. Por ele conheci espécies do mar que hoje só se vê em livros, pois não nadam mais por estas praias. De todos, ficou registrada em minha mente infantil a imagem bizarra de um peixe com a cabeça estendida para os lados em forma de martelo.
Estive na beira da praia há poucos dias. Um grupo de pescadores puxava uma rede mirrada, de uma época que mal se vê tainha e papa-terra em abundância. O vento cortava frio como na minha infância e me dei conta de que raramente me permito estas sensações.
O absurdo se dá no fato de continuar vivendo próximo ao mar e, que apesar da natureza ter surrupiado alguns dos meus direitos - como o de ver o peixe martelo ao vivo – muitas coisas ainda estão tais e quais eu deixei no passado. A única diferença é que me esqueci de experimentá-las.
Amadureci. A constatação gelou minha mente muito mais do que o vento nordeste naquela tarde. Expulsei completamente da minha alma o dispositivo que potencializa as emoções, como todo adulto que abdica do direito de viver intensamente e assume o dever de subsistir meramente.
 Que grande cilada, minha cara! Falei para mim mesma enquanto caminhava contra o vento e de encontro a minha identidade fragmentada. Você perdeu a sensibilidade com tanta naturalidade que sequer percebe a realidade robótica em que vive. O vento bate em suas pernas e você foge para se abrigar em um lugar seguro, menos arriscado. A água chama para que venha se banhar com ela, mas você nega veementemente a possibilidade de arruinar seus cabelos e sua pele com o sal. Os peixes sorriem por entre as tramas de nylon da rede e você nem viu. Está ocupada, preocupada, organizando mentalmente os próximos minutos e horas que esperam por você depois que deixar a beira da praia, depois que voltar ao seu habitat natural mecanicista. Você cresceu minha querida, e desaprendeu a viver no presente.
Gente grande não vive agora, vive daqui a pouco, amanhã, daqui a um, dois, dez anos. Adultos projetam o amanhã para sentirem-se normais, espertos e importantes. Preocupam-se com a aposentadoria, com a velhice segura, em deixar heranças polpudas, terras, bens, e não podem perder tempo com a besteira de sentirem-se plenos no presente, como se viver fosse um verbo a ser conjugado apenas no futuro.
Paro um pouco, alongo, respiro. O mar a minha frente revolve em minha memória e traz lembranças repletas de cheiros, de sons, de sabores, de emoções ainda vivas. Então, percebo que mal lembro o que comi ontem, ou que roupa eu usei. Onde passei o natal passado?  O que fiz naquele feriadão? Como é mesmo o nome daquela pessoa? Quem foi que me contou tal coisa?
 Preciso fazer muito esforço para recordar-me de coisas que vivi recentemente, enquanto lembro com precisão de detalhes dos momentos na praia, vividos há mais de vinte anos.
Não é o tempo que nos rouba a memória, é a pressa de viver. Não é envelhecer que enrijece as emoções, é essa urgência absurda de chegar ao futuro antes que ele aconteça. Preocupados com um tempo que ainda nem existe paramos de sentir, de experimentar e de viver com alma. Assim, perdemos as lembranças ainda jovens e morremos antes da morte.
Não voltei a ser criança naquela tarde na praia, tampouco exterminei o equivoco que se criou em mim ao tornar-me adulta (quem dera fosse simples assim), apenas me permiti ali, naquele momento, no único tempo que realmente me pertence, ser plenamente feliz.



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Uma passadinha no Inferno

Os dias têm estado nublados independentemente de que o sol brilhe exageradamente lá fora. A sua Paciência tirou férias e você não faz idéia de quando irá voltar. Por conta disso a Irritabilidade hospedou-se em você de malas e cuia. E para completar, todos a sua volta resolveram testar o seu equilíbrio emocional que se encontra totalmente desequilibrado nos últimos dias.
O relacionamento amoroso encontra-se frio e sem graça, o que lhe dá a certeza que a chama (aquela que dizem Paixão) se apagou. Você decide que quer ficar só para sempre, mas a Coragem parece que pegou carona com a Paciência. Então, você vai empurrando a relação com a barriga, e o (a) parceiro (a) com as duas mãos e os dois pés.
Enfim, sua vida anda de pernas para o ar (supondo que a vida tivesse pernas) e consequentemente sua cabeça não está no lugar que deveria estar. Você tem a nítida certeza de que está no meio de um pesadelo, mas se beliscar-se agora, não só vai descobrir que não está dormindo como vai ganhar uma marca roxa no antebraço.
Vou lhe dar uma notícia: Você não está num pesadelo, mas pode estar no inferno.
Calma! Deixe-me explicar. Afinal, andei pesquisando possíveis causas das reações adversas acima, (pelo simples fato de ter atravessado, inesperadamente, este ciclo lamacento sem galochas para me proteger). E descobri que no período de trinta dias que antecedem a data do nosso aniversário, passamos pelo Inferno Astral.
Coincidência ou não, no mês do meu aniversário os capetinhas resolveram azucrinar o meu astral geralmente tranquilo e equilibrado.
Sei o que você pensa sobre isto. Eu mesma costumo duvidar de teorias esotéricas que não se utilizam de elementos mensuráveis para se sustentar. Mas, quando as coisas não vão muito bem, (tipo: o urubu de baixo fazer cacaca no de cima, sendo que o de cima é você) dá pra desconfiar que exista algo mais entre a terra e o céu do que você supõe. Eu também.
Então, fui pesquisar. E do pouco que li sobre o assunto, tirei a conclusão que, tudo tem a ver com o final de um ciclo. O que para mim fez todo sentido.
Fechar ciclos; seja de idade, de fase, de relacionamento, profissional, social... Enfim, mexe consideravelmente com nossa estrutura emocional e psíquica. Começar nunca é simples; terminar muito menos.
Assim, o inferno astral acontece exatamente no período em que estamos, ao mesmo tempo, encerrando e iniciando fases em nossas vidas.
Sem querer, sem que você calcule ou planeje, a Insegurança se hospeda em você nestes dias e em sua bagagem, ela traz Ansiedade, Impaciência, Nervosismo, Medo... Ou seja, um inferno inteirinho é montado a sua volta por conta da mudança que está para ocorrer em poucos dias.
Quando um ciclo se fecha encerra-se com ele uma gama de planos, projetos, expectativas que estavam em andamento. Muitas vezes este ciclo termina e você sequer concluiu a metade do que esperava. Isto gera desapontamento.
Quando um novo ciclo se inicia, igualmente, uma gama de planos e projetos e expectativas se abrem junto com ele. Será melhor ou pior desta vez?  Você não pode prever.  Isto gera insegurança e medo.
Por minha conta e risco, afirmo que o Inferno Astral pode ir além da sua data de aniversário e até se repetir durante o mesmo ano. Ele acontece sempre que tivermos que terminar e, consequentemente, iniciar um novo ciclo em nossa existência.
Portanto, nada de assumir isto como neurose crônica e se intoxicar de calmante ou antidepressivo. Pelo contrário, é sábio encarar este caminho lúgubre sobriamente. Ao perceber que vai adentrar o túnel lamacento, não seja pega de surpresa (que nem eu). Calce suas galochas e siga e em frente.
E, nesta caminhada obscura, se por acaso o diabo lhe pedir um abraço, diga-lhe que só se for de despedida. Afinal, você está só de passagem.
(Esta crônica faz parte do meu livro Na sala de espera que será lançado em breve).

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Destino




Na linha do destino a vida eu traço.
Ora feito nó me prendo, ora ato e desato feito laço.

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Filhos do Ego


 
Muito antes de me encorajar a publicar meus escritos enchia cadernos e mais cadernos com as minhas inspirações e, consequentemente, atulhava as gavetas da estante da sala com textos e poemas, mudos, desconhecidos e mortos. Uma vez que quando você trancafia o que quer que seja, a menos que mude de idéia, está sepultando qualquer possibilidade de vingar.
Tempo depois mudei de idéia e desenterrei muitos zumbis que criei; outros deixei que morressem definitivamente. Contudo, de lá pra cá, tomo o cuidado para não gerar idéias natimortas, como diria um amigo músico.
Este exercício me fez compreender que de todos os fatores que levam as pessoas a abortarem os planos e projetos que teimam em fecundar em suas mentes, mesmo que a burocracia seja apontada como uma grande assassina de intenções, a egocracia é, de longe, a mais abortiva.
...
O ego, esta figura poderosa que vive em livre excursão pela mente humana, costuma ditar regras de bem viver, melhor diria de mal viver, muitas vezes nos comparando e desqualificando, noutras evidenciando e superestimando. E nestes dois casos, sob sua influência, nos tornamos inseguros ou arrogantes. Ambas as características são grandes entraves do que quer que seja.
Li noutro dia uma entrevista na qual um escritor e crítico literário, que não vem ao caso citar o nome, declarava sua indignação à incompetência dos escritores atuais, comparando-os aos grandes nomes da literatura. Ou seja, em uma sentença humanística exata, onde o menor junto ao maior não soma nada, o senhor de certa idade resumiu seus colegas de profissão a meros zeros à esquerda.
Após aquela leitura é lógico que o meu ego fez questão de me deixar do tamanho e na forma de uma ervilha esmagada. É claro que fiquei pensando em como iria assassinar de uma só vez todas as minhas criações e cremá-las imediatamente para não cair na tentação de desenterrá-las mais uma vez. Não tenha dúvida que depois das palavras do crítico eu me senti um dos últimos zeros posicionados à esquerda do senhor Machado de Assis.
Até que percebi que o ego do cara estava dando uma surra no meu. De um lado do ringue o ego do crítico super-hiper-autoconfiante e do outro o da super-hiper-menosprezada, eu.
...
Para tudo! É por estas e outras que as gavetas estão sendo entupidas de papéis e as cabeças explodindo de tantas idéias.
Egos inflados resolvem determinar parâmetros de comparação fazendo crer que só é bom o que é megalômano, como se pela lei natural do mundo as coisas não devessem nascer pequenas para se tornarem grandes. E os egos murchos acreditam.
Enquanto deixei meus escritos engavetados por acreditar que não eram suficientemente bons, estava com medo do que os outros iriam achar de mim e não dos meus textos. Ao me curvar ao desejo de compartilhá-los com outras pessoas, a crítica que poderia receber passou a ser irrelevante. Automaticamente, o prazer de ter sido bem recebida foi estimulante.
Quando o escritor crítico da entrevista achincalhou sem dó nem piedade a grande maioria dos escritores brasileiros, certamente frustrou muitas expectativas e abortou vários anseios de estreantes.
Numa sociedade em que as ações estão cada vez mais engessadas e a cultura esquartejada, aplaudo o vendedor de gás que passa com sua bicicleta utilitária executando música na gaita de boca.
...
Palavras sem ações são abortos induzidos de mentes egocêntricas. Idéias engavetadas são vidas decompostas que criam traças gordas e cultas.

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