A incrível geração de mulheres que ainda acredita no homem do saco



Li, num blog conhecido da internet, um artigo intitulado “ A incrível geração de mulheres que foi criada para ser tudo o que um homem não quer.” E de cara, já nas primeiras linhas do texto, deduzi aonde a autora pretendia chegar e chegou,  muito rapidamente graças a minha leitura dinâmica.
Guerra dos sexos a esta altura da evolução humana? Não tenho paciência. 
Pelo título já dá para sacar que depois de todo blá-blá-blá sobre a mulher ser super isto, super aquilo, super aquilo outro, acaba ficando sozinha porque nenhum homem compreende esta faceta superchata dela ser.
Autoflagelo a esta altura da evolução do planeta? Não tenho saco!
Opiniões estão aí para serem publicadas e respeitadas, mas, pelo amor de Deus, não dá para tomar um estado de vida, e neste caso, certamente, uma vida solitária e mal vivida como uma regra social contemporânea.
Sou neta de uma senhora que mantinha a casa e os negócios próprios com pulso firme e determinação, numa época em que não havia nem televisão colorida.  Dona Francisca era uma empreendedora que fazia pastel e outras guloseimas para vender de porta em porta, sem sequer sonhar que um dia haveria um recurso tecnológico chamado internet, através do qual ela poderia compartilhar seus produtos e vender muito mais. 
Cresci vendo a minha vó paterna correndo prá lá e prá cá. Nem por isso ela deixou de ser a avó dos contos de criança. Trabalhava fora de casa, lavava, passava, cozinhava e ainda tinha tempo e o cuidado de armazenar chocolates na gaveta da cristeira para presentear os netos sempre que a visitavam. 
Do mesmo modo, minha tia-avó, aos oitenta anos, resolveu mudar de vida e de cidade dirigindo sua Marajó branca de Brasília, onde morava, até a nossa garagem. Sem celular, sem GPS, sem homem nenhum servindo de copiloto. Nem por isso deixou de casar, ter filhos e ter tempo para declamar poesias.
Afirmar, então, ser esta uma geração das mulheres incompatíveis com os homens é, no mínimo, deprimente. Não fui criada, nem nunca pensei que deveria agradar a homem nenhum. Cresci acreditando que deveria ser o melhor para mim mesma e se, dessa forma, viesse a encantar algum exemplar do sexo oposto, ótimo! 
Por outro lado, não vejo problema algum em fazer o almoço, tirar o lixo, varrer a casa e, entre uma tarefa e outra, parar para um chamego. Nunca me estressei com as cuecas, deixo que a máquina de lavar sofra com este afazer ou, na melhor das hipóteses, ensino o moço a lavá-las no banho. Toalha molhada é tão desconcertante quanto calcinha pendurada no box. Estas polêmicas são cansativas e chatas!
Tão chata quanto a mulher que é independente, autossuficiente, bem-sucedida e solitária.
O mundo não evoluiu só para nós, senhoras e senhoritas! Conheço muitos homens que vão ao supermercado, cozinham, passam pano na casa, recolhem os cocôs do cachorro no pátio e, entre uma tarefa e outra, param para uma pegada em frente à pia. Homens que não escolhem mulheres pela finura de suas canelas que, como dizia a minha vó, são a garantia das fêmeas trabalhadoras. 
Nunca recebi de algum companheiro uma intimação  para que abandonasse meu trabalho, meus hobbies, minhas crenças. Caso isto tivesse acontecido, certamente, o sujeito não ficaria tempo suficiente ao meu lado para terminar de ler a sua lista de imposições vexatórias. Contudo, isto não me levaria a enxergar todos os homens do mundo como irrecuperáveis manipuladores. 
Se a coisa não vai bem, se a incompatibilidade com o sexo oposto é uma constante em sua vida, isto não tem nada a ver com esta incrível geração. A culpa não é da preservação do machismo arcaico em detrimento à liberação do sexo frágil. A culpa é de ambos. Das intransigências diárias de cada um. Da incompetência em domar o orgulho. Da incapacidade unissex de lidar com as diferenças, sejam elas genéticas ou adquiridas.               
Acreditar que uma mulher seja incrível por ser independente, autossuficiente, bem sucedida mas que, por culpa disto, nenhum homem consegue viver ao seu lado, é o mesmo que acreditar no homem do saco que passava pelas ruas recolhendo menininhas teimosas que adoravam se aventurar pelo lado de fora do portão.
Credo! Nem minha vó cairia nessa.

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