O mundo que pinto



O dia da criança faz um bem danado a toda gente grande. Tende a amolecer os corações endurecidos e diminuir, numa contagem considerável, a idade de todo adulto por algumas horas. 
Vai dizer que você não fica louco para rasgar o papel de presente que as mãozinhas desajeitadas demoram a fazê-lo? Ansioso para que o carrinho saia logo do pacote, só para ser o primeiro a mover o botão para o “on” e fazer o “test drive”?

Vai dizer que você não fica louca para ter a bonequinha fofa nas mãos e ajeitar os cabelos que foram desalinhados na embalagem?
Inventaram o dia da criança com fim comercial? Verdade! Usurparam o dia da padroeira do Brasil e o dedicaram todinho aos pequerruchos? É fato! Mas que este dia é daqueles que tornam o calendário, de trezentos e tantos, menos pesado, é a mais deliciosa constatação.
Não pense, contudo, que estou esquecendo os pequenos que não tiveram tanta sorte. Muito menos ignorando as milhares de criancinhas que vivem situações que não são cor de rosa e nem azul, são negras.
Não estou fingindo que não existe  pobreza, ignorância,  violência e injustiça. Isto tudo palpita em meu peito como cruéis alfinetadas que não me deixam esquecer que este mundo é mais feio do que eu gostaria. Mas jurei não falar disto hoje.
Presenteei a mim mesma com o egoísmo inocente e lícito das crianças, e me dei o direito de pintar o mundo com as cores que bem desejar. Não me censure, pois vou fazê-lo todo colorido.
Deixo as cores sombrias de lado. Finjo que no meu estojo faltam o preto, o marrom e o cinza. Será que os perdi por aí? Se achar, por favor, não devolva. Não hoje!
Hoje só quero as cores vivas e alegres da feliz igualdade.
Você também pode desenhar comigo, se quiser. Sol, arco-íris, pássaros, flores, borboletas, balões... Nuvens não! Não existem nuvens no céu deste meu dia. Não hoje. Não neste país, onde a Nossa Senhora Aparecida assina comigo esta obra.






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