Super Pessoas



Vestia um vestidinho xadrez, meias ¾ brancas e sapatos pretos estilo boneca. Os olhos tinham a cor da inocência e embora fossem negros como a jabuticaba,  refletiam a esperança ingênua de quem enxerga a vida na cor azul. Esta era eu, aos dez anos de idade.
Se fosse escolher uma época da vida a qual voltar, voltaria exatamente para o momento capturado naquela foto, que vive guardada na caixa de fotografias de minha mãe, e de lá não sairia nunca mais. Quero ter dez anos por toda a vida! Algum gênio da lâmpada se habilita?
Tá vendo? Quem, com mais de dez anos vividos, dá crédito a histórias bobas de gênios prepotentes, mas potentes?
Passou dos dez a coisa começa a mudar, literalmente, de figura. De Walt Disney para Malhação  Pensou em Harry Potter?  Considero a saga do menino bruxo um oásis no meio do atual deserto da criatividade juvenil.  Aliás, preciso retificar esta frase: Harry Potter e Senhor dos Anéis são oásis no atual deserto da criatividade de qualquer idade. Mas como não se pode viver num oásis a vida toda,  é preciso encarar as malhações.
Exatamente disto é que não quero mais brincar. De exercitar minhas preciosas esperança , perseverança  e paciência num mundo que perdeu a graça, para mim, e o crédito também.
Adulta que sou, olhando a criança que fui, me dou conta de que passei a não acreditar em muita coisa, tanto quanto no gênio que satisfaz os três desejos.
Olho para os vilões que roubaram de mim estas crenças, muitos com suas imagens postadas em cartazes chamativos, quem dera fossem anúncios de captura com direito a recompensa.  Mas não, os vilões da minha maturidade não estão à caça, andam a solta impunemente. Todos tão bem disfarçados em suas imagens impecáveis, ora santos; ora heróis; ora amigos. São tantos.
Muitos me fizeram acreditar em sua genialidade, até, que entre um descuido e outro,  me deixaram descobrir sua verdadeira identidade. Nem um deles tinha a doçura de Clark kent no olhar. Não que eu esperasse encontrar super homens ou super mulheres neste mundo. Até porque,  junto com o gênio deixei de acreditar em super heróis, depois dos dez anos. Porém,  uma coisa terrível aconteceu depois disto,  passei a acreditar em super pessoas.
Afinal,  pensava eu, é tão simples e bacana ser uma pessoa super. Super sincera, super simpática, super honesta, super educada,  super bondosa, super inteligente, super feliz...Quando é que eu iria imaginar que chegaria ao ponto de descobrir que elas não existem?
Certo, concordo que fui muito rude no parágrafo acima. Super pessoas existem sim, mas são tão raras quanto a Kryptonita e, por serem a minoria neste mundo tão vasto, correm risco de extinção.
A atmosfera que envolve a Terra, dos países às cidadelas, está densa demais para os seres sentimentalistas. Está difícil respirar o ar poluído pelas pessoas que são falsas, desonestas, mal educadas, maldosas, ignorantes e infelizes...as que povoam o mundo e não são super. Sinto-me asfixiada.
Mas, por sorte, tem uma coisa que nunca deixei de acreditar: disco voador. Então, não se surpreendam ao ouvirem dizer que me mudei para um outro planeta.

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