Quando aprendi a falar com Deus


Antes de qualquer coisa, preciso esclarecer que sempre achei que me comunicava com Ele. Desde pequenina, quando a única oração que sabia era a do Santo Anjo do senhor. Creio que nesta época houvesse realmente um contato íntimo entre nós, afinal, criança é o exemplar mais próximo de Deus neste planeta.
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Mas cresci. E da oração do anjo guardador passei direto para o Pai Nosso, como se além do alvará de gente grande tivesse passado para a categoria dos que podem conversar de igual para igual com o criador. Ledo engano.
Sem me dar conta do quanto, fui perdendo o contato com Ele (apesar de todos os Pai Nossos recitados), como quem perde um grande amigo de vista. A admiração permanece, a saudade continua, mas como o amigo foi para longe a relação vai esfriando até ser transformar numa lembrança boa.

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Foi assim que aconteceu conosco. Ocupei-me tanto com os afazeres da vida que não encontrava tempo para visitá-lo efetivamente e, consequentemente, nem Ele a mim. A distância entre nós foi aumentando mesmo que o guardasse no coração.
Contudo, contrariando todas as teorias teológicas, não me reencontrei com Ele num momento de dor e de desespero. Inexplicavelmente procurei-o quando estava tudo tranquilo, aliás, foi exatamente a calmaria excessiva que me desesperou. Precisava urgentemente de uma explicação sobre o papel que eu vinha desempenhando e, que a meu ver, era de mero figurante no mundo.
Chamei por Ele sem sequer imaginar em que distância se encontrava. Pus-me a falar-lhe como quem fala com as paredes e, neste surto de loucura, exigi que mudasse o meu roteiro. Não pedi para ser protagonista de nada, apenas para ter mais representatividade no palco da vida.

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Cedo você descobre que Deus não pode ser visto, nem ouvido; mas só mais tarde você aprende que ele fala sem palavras e existe na fé. Sem fazer um único ruído Ele deu todas as respostas às minhas dúvidas e mudou definitivamente a minha história.
 A partir daquele dia a calmaria se fez tempestade em meu viver. Embasando todas as teorias evolutivas, para atender ao meu pedido e me transformar em alguém no mínimo mais interessante, Ele me enviou a uma estrada tortuosa na qual descobri sensações que jamais havia experimentado.
As dificuldades foram se apresentando a mim como incontáveis adversários a serem vencidos e (em incontáveis momentos) achei que não teria força suficiente para chegar até o final da batalha.
No entanto, nos momentos de maior dificuldade você percebe que, ao sintonizar o canal divino um combustível invisível o reabastecerá o tempo todo sem que precise pagar nada, apenas confiar piamente.
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Confiei - me a Ele o tempo todo na nova caminhada. Em alguns trechos agarrei-o desesperadamente, tamanha a incerteza sobre onde aquele caminho iria me levar, e o combustível nunca faltou.
Enfim, não posso acabar este relato, esta confissão ou este testemunho (denomine-o como quiser) dizendo que venci. Feliz ou infelizmente comunicar-se com Deus significa ouvi-lo dizer em seu silêncio que a luta só acaba quando chegado o fim da sua jornada, e eu sequer imagino a quantos quilômetros estou da bandeirada final.
Mas posso afirmar que depois que aprendi a falar com ele, não só a vida passou a fazer real sentido para mim como me tornei mais forte, confiante e, certamente, alguém muito mais interessante e feliz.












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