Tarde demais



 
 

Diferentemente de certas trilogias que estão em moda atualmente, O Senhor dos Anéis me conquistou completamente. Sempre fui apaixonada por histórias fantasiosas - quando muito bem escritas - como a do escritor, professor e filólogo britânico J.R.R. Tolkien.
Foi “deslumbradérrima” pela trama que envolve humanos, anões
, elfos, ents,
hobbits e orcs, que me dirigi ao cinema para a “gran-estréia”da saga, e - com inenarrável decepção - dei com o nariz na bilheteria, pois os ingressos tinham esgotado meia hora antes.
E foi neste dia, enquanto voltava para casa tentando digerir a frustração, controlando-me para, literalmente, não vomitar toda a indignação comigo mesma, que percebi o quanto é dolorido lidar com a própria (responsabilidade?) de encarar o “tarde demais!”.
Perceba o quanto a constatação “tarde demais” é de sua total culpabilidade. Invariavelmente ela reflete toda a negligência que você cometeu a respeito de algo, fazendo arder a sua consciência descuidada.
Meu deslumbre pelo “O Senhor dos Anéis”, deveria ter servido de alerta para o fato de que ninguém, em sã inteligência, deixa para chegar em cima da hora numa grande estreia. Que era algo para ser planejado com esmero, a fim de degustar cada minuto, antes de me extasiar completamente.
Além de ser inesquecível por sua espetaculosidade, O senhor dos Anéis, a partir daquela data, me levou a ser mais precavida com tudo que tenho apreço. Tomo muito cuidado para não dar com a cara na imPLACAcável informação: “Tarde demais!”.
E não me refiro somente às coisas anunciáveis e editáveis como chegar tarde para prova do vestibular, do esperado concurso público ou para comprar o ingresso do show da Madonna.
Falo das tantas vezes que chegamos atrasados para os assuntos prioritários do coração.Para todas as vezes que nos desleixamos com os sentimentos, caímos na farra das emoções passageiras e perdemos a hora de revelar o verdadeiro amor a alguém e - o que é muitíssimo doloroso - não temos mais tempo de usufruí-lo.
E por que marcamos bobeira com as coisas que nos são mais importantes? Por que nos desleixamos, negligenciamos, descuidamos de coisas e pessoas que nos são especiais? Porque só percebemos a real importância que possuem, depois de tê-las perdido. Exatamente quando damos com cara na bilheteria, na porta, no portão ou... num coração... fechado. Quando topamos de frente com o aviso “tarde demais” é que descobrimos o quanto fomos relapsos.
O filho que não revelou ao pai o quanto o amava, em vida. A mãe que só se dá conta de que não viu o filho crescer quando ele já está se casando. O homem que só descobriu que amava a mulher quando ela se apaixonou por outro. A mulher que só descobriu que amava o homem quando ...Ficaria aqui, horas a fio, relatando histórias de pessoas que perderam a hora de viver os sentimentos e amargaram terrivelmente.
Pessoas que subestimaram o poder do tempo e se esqueceram de que ele dita as próprias regras. Pessoas que brincaram – inconsequentemente - com o presente, sem levar em conta que poderiam se machucar –seriamente - no futuro. Pessoas que anseiam desesperadamente poder remediar o passado que pereceu há tempo.
Dos atrasos presumíveis do cotidiano, invariavelmente, teremos uma segunda chance. O Senhor dos Anéis ficou sendo exibido por quase um mês nos cinemas. O vestibular ficou para o próximo semestre. O concurso, para o próximo ano. O show da Madona, quem sabe algum dia.
Já, para reparar o descaso e demonstrar o amor sentido por alguém poderá ser definitivamente e - dolorosamente – tarde demais.
Por isso, fica aqui a minha dica: para chegar num coração, seja pontual!

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

E se todos gostassem do (cinquenta tons de) cinza...?


Resolvi ler por livre espontânea curiosidade. O que este tal “Cinquenta tons de cinza” tem de tão extraordinário para enlouquecer a mulherada, além de Christian Grey? O galã sedutor que me fez relembrar a antiga marca de perfume (Christian Gray; lembra?).
Tomei a decisão num sábado a tarde, quando me encontrava no supermercado. Mais especificamente em frente ao expositor de livros. É agora ou nunca, pensei. Tenho que descobrir que raio de poder é este - que os tons de cinza possuem- que está levando até os homens a lerem o romance.
Ao passar no caixa as atendentes ficaram alvoroçadas querendo saber de mim o que havia ali dentro - naquelas centenas de folhas escritas - que estava deixando as clientes enlouquecidas. Ainda não sei, respondi. Mas hoje mesmo eu descubro, e prometo contar a vocês.
De volta ao lar, me atiro na cama de sandália e tudo. Rasgo apressadamente a embalagem plástica da famosa obra, mentalizando “venha a mim Christian Grey! Faça comigo o que tem feito com a sua Anastasia (a moça de vinte poucos anos - ainda virgem - que caiu estatelada no chão de seu escritório) e com as mulheres de olhos brilhantes e sorrisos largos, que tenho encontrado todos os dias recitando o seu nome como se fosse o antídoto para a vida eterna.”  
Chris-ti-an- Greyyy!
Meu filho surge na porta do quarto e tenta falar a velha e corriqueira frase: “O que tu tá fazen...?”. Nada. Não posso falar agora, estou conhecendo Grey. Fecha a porta! No final do último capítulo a gente conversa.
Algumas dezenas de páginas depois...
Ainda que o tombo da mocinha do livro tenha soado patético demais; que descobrir que ela ainda se mantinha virgem (às vésperas de se formar na faculdade, em pleno século XXI)  tenha ecoado em minha mente como: “tá gozando da minha cara, né?”. Ainda que o fato de Grey ser lindo, rico, educado (a ponto de falar como um lorde do século passado), piloto de helicóptero, ter um jeito Magaiver de ser (que dá jeito em tudo), tenha me deixado nauseada pelo excesso de doçura; que ler relatos de sexo e sadomasoquismo a cada três ou quatro páginas tenha consumido toda a minha paciência e acionado o botão de leitura dinâmica (pular de um parágrafo para outro procurando algum fato interessante e inusitado). Enfim, apesar de todos os pesares, desafiei a mim mesma. Vamos lá garota!Se todos conseguiram você também consegue. Leia até o final!
Não li. Mas já estou quase lá. Cada vez que entro em meu quarto e olho para gravata cinza do Sr. Grey estampada na capa, desejo que ela me puxe e me prenda como fez com Ana, a submissa. Não tem dado resultado. Creio que Christian não seja meu tipo. Que Ana não se pareça nada comigo. É isto. Somos incompatíveis, eu e os cinquenta tons de cinza. Quem sabe se fosse de azul, roxo, violeta...sei lá!
Admitir ser imune ao poder de um Best Seller  é uma coragem e tanto. Sério! Corro o risco de ser linchada pelo fã clube de Grey. Ser processada, bullyinada, escorraçada, ignorada, e, o que é o pior, perder todos aqueles leitores que dedicam um pouquinho de seu precioso tempo lendo os meus textinhos, minhas cronicazinhas de tom nenhum.
Mas não posso omitir a impressão que tive já nas primeiras páginas. Cinquenta Tons de Cinza é nada mais, nada menos, do que uma reprodução das antiguinhas e românticas Bianca e Sabrina que li na adolescência, só que numa versão pornográfica e sadomasoquista.
Porém, cá estamos numa daquelas ocasiões em que não foi bom para mim, mas pode ter sido maravilhoso para você (assim como foi para Anastasia). Então, se foi, deite, role e chicoteie!
Defendo a leitura até debaixo d’água (embora, às vezes, tenha vontade de assassinar certos personagens por afogamento).
Por isso, quando topar com as mocinhas do supermercado e elas me perguntarem se gostei dos cinquenta tons de cinza,não direi que sim, nem que não, apenas que não comprarei os outros cem.
 

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

O fim do (meu) mundo


 
Já tive medo do fim do mundo. Quando era pequena e não só acreditava em tudo o que me diziam, como dava forma, cor, cheiro...Quando a realidade e a fantasia viviam brincando de esconde-esconde na minha mente e eu já não sabia qual era qual.
Depois parei de pensar nisto. Assim como Papai Noel e Coelhinho da Páscoa, o fim do mundo passou a ser uma lenda, só que no gênero suspense/terror.
Contudo, os Maias, Nostradamus e outras figuras surreais (que suspeito serem parentes distantes de Noel e Coelho) deixaram alguns escritos intrigantes. Umas mensagens subliminares cheias de efeitos especiais e catastróficos. Profecias macabras sobre um cataclismo fatal que atingiria o planeta Terra em 2012...dezembro...mais precisamente daqui a quarenta e poucos dias.
É sacanagem, né? Fala sério! Ainda que você não acredite e franza o cenho, jogando a mão pra cima num gesto de “bem capaz”, a dúvida resolve vir brincar junto com a realidade e a fantasia, bem na sua mente. Tipo, mesmo não acreditando mais em Papai Noel, com toda badalação natalina mexendo em seus neurônios, amolecendo suas emoções, enevoando sua visão, você é (quase) capaz de jurar ter visto uma coisa estranha no céu de 25 de dezembro. Que mesmo não podendo afirmar (pois estava muito distante) parecia com a carroça do senhorzinho da esquina, que faz frete, subindo ao céu. Se não fosse pelos cavalos terem chifres e tocarem sininhos...
Que brincadeirinha sem graça estes moços do passado resolveram fazer com o futuro da gente, hein?
É complicado, simplesmente, desacreditar de algo que contam para você como sendo verdade e, o que é pior, está muito bem documentado. Só não registrado e protocolado, porque, naquela época, ainda não haviam descoberto os cartórios.
Durma com uma notícia desta! Pois eu tive um pesadelo, daqueles que você acorda com a certeza de que não existe terror mais terrível do que o do sonho.
O apocalipse me perseguia como um ogro gigante pronto para abocanhar meus calcanhares e depois me degustar inteirinha. E eu subia, subia, pois achava que se ficasse no alto a coisa não me alcançaria, mas o caos foi se formando ao redor de mim e já não havia mais aonde subir. Quando o fim me olhou bem nos olhos e sorriu com o sorriso dos vencedores, eu me desesperei. Não porque iria morrer, mas por estar longe de casa.
Eu que há dias atrás, enquanto “mirabolava” as últimas atividades da minha vida, havia pensado em morrer na Itália, mais precisamente sob o sol da Toscana; em Madri, numa última visita à minha prima; ou em Portugal, para ser enterrada junto com os meus ancestrais. Eu que planejava uma voltinha ao mundo enquanto me durassem os dias. Fiquei desesperada ao me dar conta que morreria longe dos meus.
Que meus? Os meus amores, amigos, companheiros, parceiros literais de caminhada. Os que compuseram o “casting” do meu enredo aqui na Terra.
Não me importei pelo chão se esvair sob os meus pés e me engolir, apavorei por não haver nenhum corpo familiar para eu abraçar. Nenhuma mão íntima para eu agarrar. Nenhuma voz conhecida que pudesse me consolar. Nenhum olhar cúmplice para mirar. A morte me encontraria sozinha zombando da minha idiotice de não ter os meus amados por perto.
Ainda bem que foi só um pesadelo. Daqueles que você faz questão de dizer a si mesmo em voz alta ao despertar, foi só um pesadelo!
E digo mais, se estes profetas engraçadinhos estiverem certos, se o fim do mundo estiver chegando, realmente, agora em dezembro, que se prepare! Pois vai ter de me buscar em casa. E eu não estarei sozinha, vai ter muita gente por lá! Até o Papai Noel.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

A culpa é de quem?



 
A culpa é do príncipe! Que príncipe? Aquele que toda mulher espera, desde o instante em que o apresentaram como pré-requisito para a consumação da sentença: “felizes para sempre”.
Parece bobagem, mas os contos de fadas que nos contaram quando éramos pequerruchas, cheios de personagens irreais e finais encantadores, acabaram penetrando em nosso mundo real e se tornando a própria realidade desejada. O príncipe é o mais forte deles.
Pra completar, tão logo nascemos somos nomeadas princesinhas. Do papai, da mamãe, do vovô, do titio, da família inteira. Crescemos acreditando nesta hierarquia fantasiosa e esperando sermos tratadas como tal. E o que é que toda princesa merece?!  Ora, ora, que pergunta tola! Um príncipe é óbvio. Que não existe.
Mas esta decepcionante constatação só chega mais tarde. Depois de muito esperar cavalos brancos pararem na frente da casa trazendo sobre o lombo um legítimo e belo exemplar masculino oriundo da realeza. Após, finalmente, constatar que os únicos cavalos que passam na rua trazem, atrelados a si, reles carroças com ocupantes reais, porém, nem de longe, parentes da realeza.
Pois bem, demora um pouco, mas você descobre que assim como os personagens dos contos de natal e de páscoa, os de conto de fada também não existem. Então, por que ainda continua esperando pelo príncipe?
Mesmo fazendo questão de dizer que já tirou o cavalo da chuva, no fundo, no fundo, a mulher deste milênio ainda espera ouvir o som de ferraduras marchando sobre o asfalto anunciando a chegada do seu príncipe, ainda que estereotipado.
Ela sonha que entre na sua vida um cara bonito, bem vestido, rico,inteligente, educado, motorizado, etcetera;  etcetera.; etcetera.  Que venha salvá-la das agruras de uma vida solitária, amá-la, respeitá-la e, assim, serem felizes para sempre.  Acabei de relatar a mais comum e original lenda urbana.
Vamos combinar, ainda que houvesse uma ínfima possibilidade de se topar com um príncipe de verdade (tipo os loirinhos ingleses), duvideodó que ele teria o perfil de anjo caído do céu, bem ali no seu quintal!
Queridas, príncipe já nasceu sendo servido. Cafezinho na cama, comidinha na mesa, roupinha lavada, passada e vestida, caminha feita com pijaminha sobre o travesseiro... Imagine se saberia servir uma mulher como ela tanto sonha!
Nem sonhe com um príncipe preparando o seu desjejum, fazendo compras no supermercado, passando aspirador, lavando a louça e a roupa de uma vez só, e, ao final do dia, enchendo você de carinhos, beijinhos e juras de amor eterno.
Acorde! Seres como estes não existem fora dos livros de fábulas, apenas aqueles que são portadores de fraquezas e deficiências. Os que são lindos e pobres; os feios e ricos; os lindos, ricos e chatos; os ricos, lindos e mulherengos; os feios, pobres e trabalhadores...
Enfim, amigas, já passa da hora de tomarmos algumas atitudes para o bem de nossa integridade emocional. Primeiro, tirar a coroinha invisível que puseram sobre nossas cabeças e assumirmos de vez que não somos princesas coisa nenhuma. Segundo, e consequentemente, parar de esperar e procurar pelo príncipe que não existe. Terceiro, prestar mais atenção nos “sapos”. Vai que, mesmo não sendo do padrão encantador que tanto lhe buzinaram nos ouvidos antes de dormir, ele esconda um príncipe dentro de si?!
Só, (por favor!) não vá passar a vida inteira tentando desfazer o feitiço. Ame o moço do jeito que ele é.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

Desde o paraíso



A cena é clichê. Mulher e homem se encontram, num primeiro momento, (virtual ou pessoalmente) e trocam algumas palavras que acendem o paviozinho - quase atrofiado - do desejo. Com as fagulhinhas esquentando os ânimos, e todo o resto, ambos combinam um encontro mais calmo, elaborado e (ansiosamente) promissor.
O encontro acontece. Se não no mesmo dia, no seguinte, mas ainda na mesma semana.
Naquela altura (do encontro), com as fagulhas transformadas em chamas queimando as entranhas dela e dele, o (inevitável?) acontece. Antes que os dois consigam dizer, juntos, a palavra paralelepípedo e sem que nenhum dois tenha parado para pensar nas consequências  daquele fogaréu.
Apagado o fogo (como os antigos costumavam dizer), ele sacode a calça, sopra as cinzas, e vai embora tranquilo, certo e confiante de que  fogo foi feito para isto: acender e apagar, acender e apagar... Já, ela, não só demora mais do que o necessário para encontrar a calça, como cata cada milímetro cúbico da cinza, antes de ir embora nervosa, ansiosa e esperançosa de que as chamas daquele caloroso e inesquecível momento queimem para todo o sempre no coração (de ambos).
Acontecido isto, os dias deveriam passar para ela como passam para ele, mas não é bem assim que acontece. Depois do fervoroso encontro, os dias passam normalmente para ele, e os segundos se arrastam para ela.
Ele acorda; boceja como um leão; escova os dentes; veste-se; faz o desjejum; trabalha o resto do dia; volta para casa à noite, e ronca (como um leão) na frente da TV.
Ela acorda, e (antes de qualquer movimento) confere se recebeu alguma mensagem na madrugada, no celular. Escova os dentes sem olhar para o espelho, pois está atenta ao aparelho móvel sobre a pia. Veste-se distraidamente, tentando lembrar se não o desligou (sem querer) antes de dormir. Sai sem comer, porque perdeu completamente a fome. Não consegue se concentrar no trabalho, pois dedicou todo o estoque de atenção ao celular. Volta para casa um bagaço, e dorme chorando no vazio do seu quarto, agarrada ao celular... mudo e analfabeto ( não chama, nem recebe mensagem).
Casos como este (em que está escrito - até em braile - que ele não ficou afim) são muito mais comuns do que as mulheres gostariam, e só há duas coisas a fazer: fingir que nada aconteceu ou fingir que nada aconteceu.
“Ah! (você deve estar pensando)E se ele for do tipo que espera que a mulher tome a iniciativa e blá-blá-blá... Tá certo ( ainda que ache que esta não é a atitude comum de um homem que está realmente afim), vamos cogitar esta possibilidade. Neste caso a mulher pode enviar uma mensagem logo pela manhã, tipo “di boa” (a estranha gíria do momento):
“ Bom diaaaa!Espero que o dia esteja tão lindo para você como está para mim.”
 Se rolar uma troca de efusividades, beleza, vá fundo e se deleite. Agora, se o cara se fingir de morto do outro lado ( vai ser ainda mais difícil, mas... ) é a sua vez: FINJA-SE DE MORTA! Só não vá morrer de vez.
É que,” na boa” (a gíria que uso), não sou adepta de frases prontas, nem de conceitos pragmáticos. Abomino atitudes feministas, tanto quanto as machistas. Mas, em certos casos, a herança (genética?) sempre fala mais alto. Atenção mulher! O homem nasceu para caçar, e não para ser caçado.
Não corra atrás; não se ofereça de bandeja; não o coloque na parede; não congestione o seu celular; não encha o mural do facebook com indiretas; não tenha ataques histéricos (na frente dele); não tente provar que é a pessoa certa para ele; não implore; não se submeta; não se humilhe. O tiro acaba saindo pela culatra.
E, para finalizar, deixo um mandamento criado por mim (ainda que não seja Deus) para ser praticado pela mulher que é inteligente, mas que as vezes se esquece  de que, por mais que a humanidade evolua, certas coisas nunca mudarão: “ Amai a si mesma, como deseja ser amada por ele.”
Amem...se!

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

Tal qual a bola


 
Se a vida me fugisse agora
Tal qual a bola que cai de minhas mãos
E rola
Se a vida rolasse para longe de mim
Ameaçando se perder de vez
Enfim
Tal qual a bola que perdi
Deixaria somente o rastro
Que fiz

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

A normalidade


Os gritos que ecoavam no ambiente à meia luz chegavam aos meus ouvidos em um idioma estranho. Na linguagem de um mundo distante que não me prestei a aprender.
"Vai filho da p....!Bate! Soca ele!Vai, vai,vai car......Ehhhhhhh!!!! Ganhamos!"
Momentos antes, enquanto delineava os olhos para que enxergassem a rigor à beleza noturna que tanto me apraz, (fachos de luz, nacos de silêncio, música ambiente, perfume latente, promessas, beijos, queijo, desejo, vinho...embriagues da alma) não poderia imaginar que a magia daquela noite estaria, em primeiro plano,  na tela de uma enorme TV que emoldurava  dois homens  se engalfinhando num ringue.
Não é a primeira vez que me sinto démodé. Muito pelo contrário, a constância da minha desatualização às badalações do momento  tem me causado a sensação de anormalidade. Ora, pois, uma pessoa normal deveria não só saber que se assiste luta livre nos bares noturnos, como torcer por um daqueles dois homens que se soqueavam na lona.
Mas confesso que não sabia, e, o que é ainda pior, não fazia ideia de quem seriam aqueles sujeitos.Não gosto de luta livre, nunca gostei e suspeito que nunca vá gostar, ainda que todos os homens do mundo adorassem e eu estivesse desesperadamente tentando conquistar algum deles.
Mas vi que as mulheres gostam. E vi muito mais! Vi que elas também torcem, gritam,xingam,em alto e mau tom, tal qual os homens fazem. Independente de também terem os olhos delineados, as bocas pintadas, as saias curtas, as pernas amostra cobertas por meias de seda, mulheres estão cada vez mais parecidas com eles.
Confesso que cheguei a duvidar que alguma delas estivesse fazendo aquilo por gosto e vontade própria. Até cogitei a possibilidade de estarem fingindo no intuito de serem “gostadas” e admiradas por eles, e fazerem  parte do  interessante e atraente mundo másculo, entende? Mas, como admiti logo acima, é que sou anormal.
Normal seria se eu tivesse reservado a mesa mais próxima à TV naquela noite, e antes de sair borrifasse meu perfume mais caro pensando “ vou à luta”. Que atentasse para cada golpe lançado , torcesse para que o “meu” lutador fosse o mais violento, e me extasiasse no final com a sua vitória.
Somente uma pessoa anormal, como eu, pensaria em sair para bater papo - de preferência em baixo tom - ouvir música de qualidade e dançar sem coreografia.
Gente anormal vive fora do atual circuito televisivo, e consequentemente, por fora dos acontecimentos mais interessantes do mundo. Não sabe quem é Carminha, muito menos quem acabou de matar quem, em que novela, de que horário. Desconhece a letra e os passos marcantes das músicas que fazem sucesso atualmente, e sente profundamente pelo camaro amarelo ter perdido o glamour clássico de coupé esportivo.
Gente anormal, além do meio ambiente, defende a preservação da ortografia correta, e reza todas as noites para que as pessoas leiam uma página... apenas...por semana... que não seja exclusivamente da internet, e que aprendam a escrever...e pensar...até o final da faculdade.
Gente anormal acredita que o fim do mundo está sendo anunciado e que isto não tem nada a ver com os Maias ou Nostradamus, que é coisa de gente viva... e normal.
Enfim, gente anormal deveria ser confinada, de preferência numa casinha à beira mar, numa praia deserta.
Por favor, divulguem! Sou um perigo que anda à solta.
                                                                                             

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

O mundo que pinto



O dia da criança faz um bem danado a toda gente grande. Tende a amolecer os corações endurecidos e diminuir, numa contagem considerável, a idade de todo adulto por algumas horas. 
Vai dizer que você não fica louco para rasgar o papel de presente que as mãozinhas desajeitadas demoram a fazê-lo? Ansioso para que o carrinho saia logo do pacote, só para ser o primeiro a mover o botão para o “on” e fazer o “test drive”?

Vai dizer que você não fica louca para ter a bonequinha fofa nas mãos e ajeitar os cabelos que foram desalinhados na embalagem?
Inventaram o dia da criança com fim comercial? Verdade! Usurparam o dia da padroeira do Brasil e o dedicaram todinho aos pequerruchos? É fato! Mas que este dia é daqueles que tornam o calendário, de trezentos e tantos, menos pesado, é a mais deliciosa constatação.
Não pense, contudo, que estou esquecendo os pequenos que não tiveram tanta sorte. Muito menos ignorando as milhares de criancinhas que vivem situações que não são cor de rosa e nem azul, são negras.
Não estou fingindo que não existe  pobreza, ignorância,  violência e injustiça. Isto tudo palpita em meu peito como cruéis alfinetadas que não me deixam esquecer que este mundo é mais feio do que eu gostaria. Mas jurei não falar disto hoje.
Presenteei a mim mesma com o egoísmo inocente e lícito das crianças, e me dei o direito de pintar o mundo com as cores que bem desejar. Não me censure, pois vou fazê-lo todo colorido.
Deixo as cores sombrias de lado. Finjo que no meu estojo faltam o preto, o marrom e o cinza. Será que os perdi por aí? Se achar, por favor, não devolva. Não hoje!
Hoje só quero as cores vivas e alegres da feliz igualdade.
Você também pode desenhar comigo, se quiser. Sol, arco-íris, pássaros, flores, borboletas, balões... Nuvens não! Não existem nuvens no céu deste meu dia. Não hoje. Não neste país, onde a Nossa Senhora Aparecida assina comigo esta obra.






  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

Quem dá mais?


 
Sou da época em que tabu era mais do que um perfume barato. Convivi com este monstro invisível que, ao que tudo indica e pelo que tenho observado, encontra-se soterrado.
Confesso, contudo, que ainda não me acostumei totalmente com esta era libertária. Outro dia vi uma garota totalmente nua na novela das sete... oito... sei lá... era no início da noite,  e me peguei espantada: “ não seria cena pra sessão coruja, enquanto as crianças dormem?”
É que o monstro deixou marcas profundas, principalmente nos seres que nasceram com a inscrição:” frágil - delicado -mimoso - sutil -  bibelô”. Nós mulheres, é claro.
O malvado sussurrou nos ouvidos da humanidade, por exemplo, que o hímen era um invólucro sagrado que resguardava a integridade moral, espiritual, corporal, (e o escambáu!) da mulher.
É claro que a notícia acabou chegando aos meus ouvidos também. E, numa época em que não havia aula de educação sexual, eu não fazia a menor ideia do que seria este tal hímen!
Devo ter perguntado. Alguém (que não lembro quem) me disse que era uma membrana fininha, igual à pele do ovo, que a mulher possuía (no lugar tal), que era o atestado de virgindade e, automaticamente, de sua integridade.
Se fechar meus olhos agora, consigo rever a imagem que criei do lacre da mulher direita. Praticamente uma madrepérola. É que o tabu tinha destes sadismos de enfeitar o terrorismo com frufrus para parecer menos atemorizador. Embora, eu nunca tenha acreditado que uma coisinha tão ínfima e oculta fosse responsável pela manutenção ou destruição do caráter de uma mulher.
Muito bem, queridas e queridos, esta historinha de hímen já era, já foi, já DEU!
Atualmente, das teorias sexuais, faz-se uma leitura dinâmica. Pula-se a parte da virgindade e vai-se direto para os métodos anticoncepcionais. Aprende-se tudo rapidinho, que é para chegar logo na parte mais interessante, os métodos (e posições) eróticos. E ou não é?
Por que resolvi escrever sobre a virgindade, então?Porque fiquei sabendo que uma menina daqui do meu estado, de Santa Catarina, pôs sua virgindade a leilão pela internet, e fiquei pasma!
Não pela atitude da garota. O atestado de virgindade é dela, ela que o rasgue do jeito que quiser e bem entender; estou pouco me importando se a sua pele de ovo, for bicada por este ou por aquele pinto; também não estou nem aí se a madrepérola virou um negócio, como ela mesma admitiu. Tá certo, o negócio é dela! E, pra resumir, eu não sou mãe desta guria.
Mas também não sou ingênua, burra, otária, para não ter sacado que ela deu o primeiro passo. O mesmo (e certeiro) passo que deu a “bullyinada” da faculdade, a ingênua Geisy Arruda, para galgar os degraus que levam à Playboy, à Fazenda, ao Big Brother, e faturar muita grana!
O que me deixou pasma, atônita, abismada, boquiaberta de verdade, foi saber que existem homens que ainda cobiçam um hímen intacto! Que dão lances altíssimos pelo (prazer?) de deflorar uma virgem! Aqui, agora, neste tempo em que o sexo é mais banal do que banana na feira!
E que, antagônica e ridiculamente, a internet, a mídia, a imprensa, os meios que mais contribuem para extinção de todo e qualquer tipo de tabu remanescente, resolvam desenterrar o sentido arcaico da castidade feminina para faturar sobre ele.
Nada mais burlesco, antiquado, retrógrado e machista poderia inspirar o meu dia e uma crônica.
E eu que, às vezes, me acho jurássica...
Ha!  Mas eu já estava me esquecendo de mencionar a parte mais tocante, emocionante, comovente desta história toda. Enquanto o negócio não é fechado (ou aberto), a virgenzinha passa os seus dias em sua alcova virtual, dando entrevistas e lendo livros de filosofia. Não é meigo?!



  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

A bruxa Zul


 
Zulmira olhou-se no espelho e não gostou do que viu. Todos os dias ela se olhava no espelho e todos os dias não gostava do que via. Tinha olhos arregalados, nariz comprido enverrugado, queijo torto e todos os dentes estragados.
Zulmira era feia de doer. Tinha cabelos vermelhos, secos e fedidos, em cima deles, um horroroso chapéu preto e pontudo. Usava um vestido tosco e comprido e uma faixa roxa na cintura. Até o espelho se arrepiava ao refletir tão horrível criatura. “Pobre Zul!” Pensava Cristalino, o espelho amigo de Zulmira.

Todos os dias era a mesma ladainha. Ao ver-se no espelho a moça se achava uma bruxa. E Zul era mesmo uma bruxa, só que uma bruxa diferente. Em vez de ficar feliz sendo tão feia, ela choramingava descontente:
— Quem disse que tenho que ter este nariz comprido, este queijo torto e estes dentes estragados? Quem disse que preciso ter cabelos fedorentos e usar este chapéu envergado? Quem disse que preciso usar este vestido ultrapassado, sujo e rasgado?

A vida não tinha sido fácil para Zul. Desde pequenina ela se achava diferente das outras bruxinhas. Enquanto todas contavam, faceiras, a primeira verruga que nascia no nariz, Zul tentava escondê-la com o pó da casca do ovo de perdiz. Ninguém entendia direito os modos daquela bruxa menina que em vez de aprender poções e bruxarias adorava misturar as flores e criar perfumaria.
Tinha pavor de aranha, medo de rato, nojo de gambá, fugia das baratas e de cobras nem queria ouvir falar. Sonhava com morcegos de tanto pavor que tinha. Mas nos sonhos da bruxa Zul cada morcego virava uma linda borboletinha. A bruxarada esperava que com o passar da idade a bruxinha pegasse gosto pela coisa e saísse pelo mundo a fazer muita maldade.

O tempo passou, Zul cresceu e ficou uma bruxa feita. Mas quem esperava que a as coisas mudassem, enganou-se. A pobre bruxa até tentava fazer as coisas perfeitas. Ensaiava a risada apavorante, testava poções maléficas com a bruxa Adelaide, tinha aula de voo em vassoura, participava da convenção anual e ouvia com atenção as palestras das mais experientes em assunto de maldade. Anotava tudo num caderno para nunca esquecer. Mas, por mais que tivesse tentado, Zul não conseguia aprender.


Como poderia ser uma bruxa normal se ainda tinha pavor de aranha, medo de rato e de barata e nojo de gambá? Como poderia estar contente se todos os dias, quando se via no espelho, desejava ser diferente?
Então um dia, depois de ter sonhado com morcegos de asas de borboleta, bruxa Zul tomou uma decisão. Ia partir sem que ninguém a visse. Na calada do dia, enquanto todas as bruxas dormissem, ela partiria. E assim o fez.
O sol brilhava alto e quente. Zul ajeitou o chapéu, amarrou a trouxa de roupa num pau e lá se foi para o alto da montanha. Queria ficar sozinha para pensar e sabia que lá em cima onde o ar era puro e fresco as outras bruxas não ousariam chegar.
Já no topo da montanha, Zul descobriu uma casinha pequena de madeira escura que parecia abandonada. A bruxa, então, cansada, se atirou no chão duro e dormiu. E sonhou. No sonho uma bela moça veio lhe falar. Vestia um vestido azul da cor do céu e tinha asas transparentes que a faziam flutuar.
— Você não nasceu para ser má. Como qualquer criança você nasceu para ser o que desejar. Para ser o que quiser basta seguir o seu coração que irá se transformar.

Zul acordou de supetão e nas palavras de seu sonho se pôs a pensar. “Quer dizer que não preciso ser feia e má? Posso fazer as coisas que pedem o meu coração? Puxa! Se for assim, de hoje em diante não serei mais uma bruxa!”
Daquele dia em diante a bruxa Zul só ouvia o seu coração. Das plantas que tanto gostava passou a cuidar. Misturava flores perfumadas, em vez da malcheirosa poção. Cuidava dos bichinhos que a sua volta vinham brincar, dava-lhes água comida e carinho. De tão feliz que estava, passava os dias a cantar.
A bruxa Zul até se esquecera do espelho Cristalino no qual se olhava todos os dias. Na verdade ela achava que aquela imagem de bruxa não deveria ser a dela. Afinal, seu coração tão bondoso em vez de torná-la tão feia deveria fazê-la bela.
 
Foi então que por descuido, certo dia, a bruxa Zul ficou de frente para o espelho. Sem poder fugir da imagem ela viu-se, com surpresa, de corpo inteiro. Esfregou os olhos com muita força e voltou a esfregar. A moça que ela via não era ela e sim aquela que em sonho viera lhe falar.
Tinha cabelos longos e macios, olhos vivos e serenos, o nariz era perfeito e o queijo era pequeno. Zul abriu a boca abismada: “Será que estava sonhando?”. Foi então que viu os dentes, brancos e lindos brilhando. A moça não acreditava, o vestido tosco sumira, no lugar do negro e rasgado, o cetim azul reluzia. As mãos eram lisas e delicadas, as unhas limpas e aparadas. Zul não agüentou, caiu de joelhos no chão sem saber se ria ou chorava. Ao ouvir seu coração e toda a bondade que nele existia a bruxa havia se transformado numa boa e bela fada.
O espelho amigo, Cristalino, de felicidade sorria. Em vez da bruxa horrorosa, era a fada Zul que para sempre refletiria.

 

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

Bruxas à solta



O bacana de assistir a um filme pela segunda, terceira ou quantas vezes sentir vontade, é que você não precisa mais ficar tão ligado nos fatos e diálogos, pois já sabe o que vai acontecer e, praticamente, o que será dito. Sua mente pode brincar de entrar e sair da paisagem cinematográfica sem correr o risco de perder a parte crucial da história e deixá-lo boiando no final, junto com as letrinhas brancas do “casting” sobre a tela preta.
Além da paradinha para mexer a pipoca, pegar o guaraná e fazer xixi, você pode se ausentar da trama para bater um papinho básico com você mesmo. Foi o que fiz, enquanto assistia pela segunda ou terceira vez (perdi a conta) “As bruxas de Salém”, protagonizado pelos maravilhosos Daniel Day-Lewis e Winona Ryder.
 O filme é baseado no episódio ocorrido, em outubro de 1962,na América do Norte, em que, por pura superstição, pessoas inocentes foram julgadas e condenadas à forca pelo crime de bruxaria no pequeno povoado de Salém, Massachusetts.
Enquanto pescoços eram pendurados em cordas, corpos arremessados no vácuo e pés dançavam no ar com a morte, falei para mim mesma que se tivesse nascido na Europa, entre os séculos XV a XVII, certamente teria sido caçada e (caso capturada) condenada à forca ou à fogueira.
Como espiritualista não duvido que isto tenha realmente acontecido numa encarnação anterior e que eu tenha sido sentenciada à fogueira, uma vez que reencarnei com a pele um tanto quanto “tostada” desta vez (brincadeirinhaaa!).
Contudo, a caça às bruxas não é mero enredo da dramaturgia, como alguns podem pensar. Mas sim, um impactante fato histórico marcado pela perseguição religiosa e social que teve início no século XV, perdurando até o século XVII.  Durante três séculos ou mais, cerca de 50 mil pessoas foram executadas por crime de bruxaria, 75% mulheres.
Bastava ser diferente. Ter algum dom especial, dotes medicinais, mexer com ervas, curar ferimentos, servir de parteira, ter pensamento próprio, questionar crenças e posturas religiosas, seguir outra religião que não fosse católica, ou, simplesmente, acreditar num patuazinho qualquer de boa sorte, queimar incensos perfumados, dançar à noite na mata, de dia no quintal de casa... Enfim, se por estes últimos itens eu já estaria ferrada, imagina se admitisse, naquela época, que preferiria mil vezes utilizar a vassoura como meio de transporte do que de limpeza.  Condenação na certa!
Quanto ao filme, deixa claro que além de fatores sensíveis e intuitivos inerentes à alma feminina, existe um sério desencadeante da faceta “bruxesca” da mulher: a paixão.
Já ouviu dizer que mulher apaixonada é um perigo? Pois acredite. A bonitinha do filme, a de carinha angelical e jeitinho indefeso (Winona, é claro), era a perversa da história. A que causou a morte de dezenas de pessoas.
 E toda esta maldade, por quê? Porque o cara por quem ela se apaixonou, caiu de quatro e rolou no feno (Daniel, é lógico), rejeitou-a. Porque era casado, e não só se arrependeu da besteira que fez como lutou até o fim para defender a esposa, pois a bruxinha fez de tudo para enfiar um colar de corda no pescoço da rival.
Está sentindo um “déjà vu”?  Não se espante, não é preciso ter vivido na idade média para testemunhar barbáries como esta.
Vou lhe contar um segredo. Não me pergunte como eu sei, mas sei.  Existe até hoje, e acredito que sempre existirá, uma bruxa adormecida em cada mulher. Quando ela se apaixona a bruxa desperta. Se correspondida, será boa; se rejeitada, muito má!
Por isso, (e já que aboliram forcas e fogueiras), é prudente que se ande sempre com gravetos e fósforos na bolsa. Se é que vocês me entendem...
Quem não entendeu que assista ao filme... quantas vezes quiser.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

Bendito vício


 
Ainda bebês, aprendemos que o amor é uma coisa boa. A partir daí, sair desenhando  coraçõezinhos por árvores, paredes, mesas e cadernos, é só uma questão de coordenação motora.
Depois de desenhar passamos a sentir e poetizar, afinal descobre-se,  instintivamente, que o amor é algo que deveria  se espalhar no ar. De preferência acondicionado em embalagem spray e distribuído gratuitamente por todos os cantos do planeta com o rótulo “AMOROSOL”.
Contudo, também muito cedo, como toda energia geradora do planeta que possui dois polos, - Ying e Yang; positivo e negativo; luz e sombra; bem e mal - descobrimos que o amor possui outra face, e ela não é nada bonita.
Nos primeiros anos de escola, boa parte da galerinha terá descoberto que amar pode ser ruim. A garotinha que amava o garotinho que só amava jogar futebol aprendeu que o amor pode ser burro e injusto. O garotinho que amava a garotinha que amava o seu amiguinho, descobriu que o amor, além de burro e injusto, tem gosto estragado e é cruel.
Desse jeito, muito precocemente, compreendemos que com exceção de papai, mamãe, vovô, vovó, titio, titia... o amor pode dar em nós, mas não necessariamente na pessoa por qual nos apaixonamos. Resumindo, muito antes de a vida nos cobrar responsabilidades já teremos sofrido e chorado por amor.
O inexplicável disto tudo é que a garotinha ignorada do primário continuou se apaixonando independentemente de já ter completado todos os graus de escolaridade possíveis. E o renomado mestre em engenharia nunca desistiu, ainda que tenha sido reprovado na matéria do amor, lá na quarta-série.
Isto significa que, mesmo sabendo que amar alguém sem laços consanguíneos é correr o risco de sofrer, perder a paz, as unhas, os cabelos, a fome, a saúde (física e mental)... a gente topa. Mais do que isto, a gente procura pelo amor nos cantinhos mais estreitos, que é onde ele costuma se esconder. Corre atrás tentando alcançá-lo em sua corrida descabelada, e tenta prendê-lo no aposento que decoramos especialmente para ele, no nosso coração.
Pessoas querem amar independentemente de que, para isso, precisem adulterar a própria identidade. Veem-se mulheres e homens (e até crianças!) mudando suas ideologias (política, social, espiritual), por causa do amor. Namoradas que passam a torcer pelo time dos namorados, com medo de virarem adversárias. Apaixonadas que repaginam o guarda-roupa e, automaticamente, o estilo de vestir. Raspam tatuagens, colocam mega hair e silicone. Jogam fora estojos de maquiagens repletos de batons vibrantes, cílios postiços e a velha personalidade.
Tive uma amiga na adolescência que era a própria personalização do camaleão. Se moldava com tanta naturalidade às peculiaridades e interesses do carinha que estava afim, que até pareciam almas gêmeas.Incorporava qualquer gênero:  do hippie ao yuppie; da umbanda ao ateísmo; do clássico ao sertanejo; da intelectual à Amélia. Eu já não sabia qual delas era a minha amiga verdadeira, creio que nem ela. Até que se casou e não viveu feliz para sempre.
Alguma dúvida de que o amor é tirano?!
Tempos atrás, entretanto, encontrei com ela e o novo namorado nordestino. Enquanto nos abraçávamos com os olhos encharcados de saudade ela gritou em meu ouvido: “Oh Xente! Você não mudou nada!”. Nem você, eu pensei. Nem a mania de tentar o amor mais uma vez.
Tá vendo, o amor é uma droga! Vicia,consome, dilacera, fere, enlouquece e, até, mata.
Devíamos começar agora mesmo uma campanha contra ele. Internar todos os dependentes, recuperar os insanos, fazer manuais e cartilhas de como evitar o amor, precaver os pequeninos: “Não desenhe coração!”, confeccionar camisetas e cartazes educativos: “Amor? Tô fora!”.
Imagine só o resultado! Resguardaríamos a integridade emocional, garantiríamos a paz pessoal, protegeríamos o coração do flagelo eminente, e transformaríamos o mundo num caretão recalcado e infeliz! Topa?

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

Tá rindo do quê?!

A política está no ar. Como uma estação do ano ela envolve a todos, ainda que uns queiram e outros não.
Adoraria viver somente outonos e primaveras, destituiria o inverno e o verão de suas funções anuais, se assim pudesse. Mas como não posso, tento transformar o convívio com as duas estações radicais o mais suportável possível, e torço para que nem o frio, nem o calor sejam mais fortes do que eu.
Política nunca foi minha praia. Sempre me abstive de todo e qualquer tipo de partidarismo que me forçasse a crer que uma sigla é melhor do que outra. Contudo, admito ser filiada ao PRE (Partido dos Românticos e Esperançosos), que acredita que existam pessoas competentes e bem intencionadas no mundo, e que estas pessoas se candidatam a um cargo político.
Porém, venho observando que, nos últimos anos, qualquer pessoa que resolva assumir a posição de CANDIDATO perde imediatamente o valor e a credibilidade. O que faz o ato de participar de um pleito eleitoral parecer vergonhoso.
A quantidade de reclamação, desaforo e, até de chilique, de pessoas que abominam a política, tem me deixado... (não estou encontrando a palavra)... intrigada (?).
Se não estou ficando  louca, alguém deve estar.
Pelo que me lembro, a Constituição de 1988 estendeu o direito político dos cidadãos brasileiros nos presenteando com a tão falada Democracia. Que, antes de ser um nome pomposo, significa a possibilidade que cada um de nós tem, não só de escolher alguém, mas de participar ativamente da construção de uma sociedade mais justa.
Estou querendo dizer com isto, que o seu Zé do mercado da esquina pode concorrer a um cargo político se assim desejar, se considerar competente e estiver insatisfeito com a atual situação política em que vive.
Ora, mas se ele pode fazer isto e não faz, por que fala mal de quem fez? E, pra piorar ainda mais, espanta com a cara mais feia que possui, qualquer um que ousa entrar em seu estabelecimento para se apresentar e pedir voto.
—Nunca olharam para mim, agora querem me apertar a mão!!!
Impossível, seu Zé! Nenhum candidato, por mais popular que seja, terá apertado a mão, sorrido, quiçá olhado para todos os milhares de eleitores.
Sabemos que a Cartilha da História Política Brasileira, de tão imoral, deve mesmo ser proibida para menores de 18 anos. Estamos de acordo no que tange o oportunismo desavergonhado dos tantos que buscam um cargo rentável e nada mais.  Mas ficar em cima do muro jogando ovo em todo aquele que deu sua cara para estampar em “santinhos”, não resolve a problemática do país.
Não quer adicionar o candidato no Facebook, aja com democracia, exercite o direito que é seu, não aceite. Mas use de sabedoria, não saia comentando em seu mural como se fosse a coisa mais importante que já fez nos últimos anos de sua vida.
Tá rindo do quê? Enquanto não dermos à política a importância que verdadeiramente possui, estaremos rindo de nós mesmo. Só muda o local (um está no poder e o outro na plateia), mas a palhaçada é a mesma.
Nem toda feiticeira é corcunda, já dizia Rita Lee. Nem todo político é vagabundo, digo aqui.
E quando o inverno se faz ameno como primavera, quem ganha sou eu.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

Não olhe o passarinho





Vejo uma menininha, com parte do corpo miúdo encoberto pela água do mar, agarrada no meu pai.  Percebo a emoção que transparece nos olhinhos negros e sou capaz de ouvir o seu pensamento falando para as ondas: “Nenhuma de vocês conseguirá me derrubar, porque meu pai está me segurando.”
A imagem deve ter sido captada por algum fotógrafo profissional, daqueles que saiam batendo fotos pela praia com o pescoço envolto por dezenas de monóculos.
Para quem não faz a menor ideia do que seja; monóculo é uma espécie de minibinóculo de uma lente só, na qual você mira com um olho e enxerga, na outra extremidade, a imagem capturada ampliada e colorida.
Tempos atrás, catei todos os monóculos coloridos que a minha mãe guardava em sua caixa de fotografias e mandei revelar os minúsculos negativos que continham. Lembro-me, na época, de ter achado o máximo poder passar para porta-retratos aquelas imagens antigas. Sem imaginar que, anos depois, estaria digitalizando-as na minha própria casa.
Mas voltando à imagem da fotografia, hoje arquivada no meu computador, vejo um homem que reconheço como sendo meu pai, um garotinho que - com certeza- é meu primo e uma garotinha que sou eu, mas que olho como se não fosse.  Isto sempre acontece quando vejo imagens nas quais estou presente, ainda que não sejam tão remotas como esta com meu pai.
Achei que poderia ser o efeito colateral de eu ser “anostálgica” (aquela que não tem nostalgia). Sempre fui de olhar para trás, fazer um breve aceno, esboçar um sorriso apressado e seguir em frente. Nunca senti saudade doída e agradeço aos céus por ter me privado de tal sensação, pois da convivência com nostálgicos sofredores aprendi o quanto é difícil suportar a dor de não poder voltar no tempo.
Muito antes de conhecer o livro “O Poder do Agora” de Eckhart Tolle, já conjugava a vida no presente, sem pretensão. Como se o tempo, o exímio varredor, nunca tivesse deixado um único cisco do passado para que eu ajuntasse. Jamais desejei voltar a uma época vivida. Tampouco ao show em que a Rita Lee, sozinha, sentada em um banquinho, me fez transcender todas as barreiras tridimensionais e eternizar a emoção daquela noite.
Claro que nunca esqueci, afinal não estamos tratando aqui de Mal de Alzheimer, e sim, de “Anostalgia” (também admito ser viciada em neologismos). Lembro - não posso dizer de todos, porque minha memória anda querendo a aposentadoria antes da hora - de boa parte dos acontecimentos da minha existência, mas, além do desejo de não querer voltar, sinto como se nunca estivesse estado lá.
Quanto mais tento compreender o que me causa esta reação (anomalia?), mais descubro que ela não se enquadra em nenhuma teoria da psicologia, biologia, metafísica ou física quântica. Unindo pesquisas e experimentações da “leigologia”, acabo acreditando naquilo prefiro crer. Na presença que vive em meu corpo, que sente por mim, pensa por mim, fala por mim, mas nunca aparece nas fotografias, porque a luz só consegue apanhar - entre o abrir e o fechar da lente - o que está materializado em seu campo de captação. O que não é o caso da alma.
Certamente minha alma estava com meu pai naquele dia, na praia do passado. Mas não ficou por lá, presa naquela fotografia. Pelo contrário, ela continua existindo nas sensações do que sou e faço hoje. Nos olhos ardidos pelo sumo da laranja que acabei de descascar; no beijo que dei no meu filho quando o deixei em frente ao colégio; em acordar  e ter de lutar com a preguiça que não queria sair da cama.
Ainda que a minha mãe tente me convencer dizendo que eu amava aquele minúsculo maiô vermelho, é como se outra garotinha o vestisse e pousasse para foto, não eu.
Eu sou esta pessoa que está a escrever – nem no passado, nem no futuro - agora.
Capturar momentos e prendê-los em imagens é uma brincadeira que adoro, contudo, sei que é impossível salvar a emoção numa pasta, ainda que a nomeie: “A felicidade vive aqui para sempre.”
Assim, apesar de não mais me ver naquela fotografia, algo me diz que - mesmo morrendo de medo das ondas poderosas - eu tinha plena consciência da importância daquela presença masculina junto a mim, do calor da sua mão agarrada ao meu corpinho congelado, e da gigantesca felicidade que me envolvia e, sabiamente, sussurrava em meu ouvido: “Curta intensamente este instante, antes que ele se vá.”
Tanto, que quando o fotógrafo gritou: “OLHA O PASSARINHO!” Preferi continuar olhando para o meu pai.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

Amor até a última vista


Das fantasias de criança lembro que incorporar o papel de cúpido era coisa corriqueira. Bastava algum apaixonado deixar escapar um suspiro para um cupidinho (ou vários) da turma sair correndo a espetar o coração da vítima daquele amor: “Serginho, a Aninha gosta de vocêêê!”. E, como paciência para esperar o efeito da flechada era algo que ninguém possuía, o anuncio era imediato: “Namoradinhos, namoradinhos!!!”
O bacana de ser criança é a leveza que sustenta o que ela faz. Aproximar corações era apenas uma das muitas diversões que podíamos optar durante o dia todo. Éramos cupidos sem maiores responsabilidades. Formar pares perfeitos ou imperfeitos, tanto fazia. O objetivo era sair dando flechadas.
Crescer, além de outros pesos, é carregar seriedade em tudo o que se faz. Até o anjinho fofo e pelado, precisa transportar juízo junto com sua munição de flechas.
Aproximar duas pessoas adultas é muito mais complexo do que enviar um bilhetinho anônimo. A estratégia de armar para que as vítimas (do amor) sentem lado a lado, quando não mais frequentam sala de aula, não utilizam ônibus escolar e já passaram da idade da inconsequência, é uma trama digna de filme de espionagem.
Se, se apaixonar por alguém depois dos trinta e tantos já é algo complicado, imagine tentar fazer alguém se apaixonar por... Praticamente uma odisseia!
Perceba que estou me referindo à faixa etária que (creio eu) já passou por todos os processos de desenganos e não acredita em papai Noel, coelho da páscoa, homem do saco, príncipe encantado, bilhete premiado e...amor à primeira vista.
Falo de homens e mulheres que arrancaram a película de nuvenzinhas azuis de suas janelas e enxergam a vida com as tempestades que lhe cabe. Os mesmos que fazem o cupido tremer.
A natureza, a divindade, os astros, os smurfs... Dê a quem quiser os méritos (ou deméritos) do ciclo que nos faz amadurecer. Bem ou mal, vemos o amor passar pelas categorias de conto de fadas, romance, comédia, documentário até chegar ao drama da vida real.
E é bem aqui, na vida real, que encontrar alguém para amar e ser amado vai muito além do kit: corpo perfeito, carro possante, emprego perfeito, conta possante.
O conselho mais sábio que já ouvi sobre como encontrar e manter um amor pela vida toda recomenda escolher alguém com quem se goste de conversar, que é para que quando tudo ficar insignificante (emprego, carro, corpo...), restarem os enriquecedores momentos de conversa.
Não é a mais pura verdade? Quando vejo casais sentados em lugares públicos mirando cada qual sua paisagem, um olhando para o norte e o outro para o sul, mais mudos do que as cadeiras que os sustentam, não consigo deixar de pensar: “Que triste, eles não têm mais nada em comum”.
Será que o amor de duas pessoas que não possuem nada em comum, sobrevive?  Aposto que não. Assim como acho que os “diferentes” é que se atraem, e não os “opostos”.
Me aponte quem consegue conviver e, consequentemente, amar alguém estritamente diferente de si, que eu mudo de ideia. Diferenças são necessárias, mas, como tudo, quando dosadas.
Ainda adolescente, depois de ter namorado um jogador de futebol e ter de passar muitas tardes de domingo em arquibancadas (ou sofás) assistindo a jogos de futebol que detestava, prometi, a mim mesma, ser mais criteriosa na próxima escolha. Bastava que tivesse um chaveirinho de time de futebol para o candidato ser eliminado.
Afinidade é essencial.  Adoro viajar, sair para ouvir música, assistir a filmes, ler, escrever. Tenho buscas pessoais e dúvidas espirituais... Se não puder juntar meus verdadeiros “pertences” com os da outra pessoa e, juntos, criarmos o nosso “espaço”, não restará quase nada para sustentar a relação. O silêncio, com certeza!
Na última vez que empunhei minha flecha e cutuquei uma amiga para que prestasse atenção em um amigo (e vice-versa), sabia que tinham muita afinidade. A fechada foi certeira! Juntos há quase um ano, ambos, me agradecem.
Posso até ter criado juízo, mas perder a chance de brincar de cupido? Capaz!

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

Hã?




Não é a primeira vez que acontece de alguém pedir a minha opinião sobre algo que não faço a mínima ideia do que seja. “O que você acha do UFC?” Para situações como esta costumo utilizar a velha e eficaz estratégia da contra-pergunta: “Hã?” Assim, despretensiosamente, como quem não quer nada, apenas um tempo para decifrar o enigma em questão.
No princípio achei que UFC fosse a sigla de algum time de futebol. União Futebol Clube? Perceba, portanto, como o “hã” não só nos salva de respostas ridículas, como força o inquiridor a explicar melhor sua pergunta.
 “O que você acha das lutas do UFC que estão sendo transmitidas pela televisão?” Ele perguntou novamente.
Ah! Bom! Por que não falou antes? Disto eu entendo! Ou melhor, não consigo entender. Como é que alguém pode gostar de assistir duas pessoas se soqueando até sangrar, e ainda torcer para que uma delas caia estendida no chão, de preferência desacordada que é para não ter chance de se levantar?!  Respondi exatamente assim.
Já em outra ocasião, quando estava praticamente diplomada pelo Google em MMA (agora é sua vez de dizer “hã?” que eu explico)...  Como estava dizendo, quando eu já havia pesquisado tudo sobre as artes marciais mistas, que pelo acrônimo em inglês significa (mixed martial arts), foi uma voz feminina que me indagou: “Você não gosta do UFC?”
Note que quando uma pessoa constrói a frase desta forma “você não gosta?”, é porque ela já sabe que você não gosta, mas quer saber até onde vai o seu estranho jeito de ser.
Aquela garotinha delicada estava tentando entender como alguém (que era eu) poderia não gostar de assistir duas pessoas brigando até sangrar, de preferência o lutador babaca que falou mal do Brasil. Graças ao meu instinto de sobrevivência neste estranho habitat Globalizado, na ocasião, me encontrava muito bem informada sobre todos os detalhes e poderia discorrer sobre sua pergunta com categoria.
 
Mesmo que se trate de homens lutando, e que isto possa representar o resgate da essência máscula, violenta, mas heroica, dos lutadores da Roma Antiga; ainda que os gladiadores de séculos atrás tenham reencarnado (segundo Galvão) neste terceiro milênio;  que os altos índices de audiência destes (reality) shows, rendam muito dinheiro às emissoras de TV; blá-blá-blá... Acho estas lutas um entretenimento (?) de extremo mau gosto!”
Entretanto, me restringi à mera frase: “Não, não gosto”.
Certamente esta não foi a última vez que me senti um alienígena vivendo entre os terráqueos.
Numa noite destas saí com um casal de amigos. Conversa ia conversa vinha e, entre uma frase e outra, o marido da minha amiga dizia “a culpa é da Rita!” Neste caso, não utilizei o “hã?”, porque não era uma pergunta dirigida a mim, era uma afirmação. A culpa (que eu não sabia do quê) era da Rita (que eu não fazia a menor ideia de quem fosse).
Caramba! Curiosa do jeito que sou passei a noite inteira com a “Rita” atrás da orelha. No outro dia, porém, não tinha a menor dúvida de quem poderia me ajudar. Corri para a internet e digitei a frase que o marido da minha amiga ficou repetindo a noite inteira.
E, como eu já suspeitava, descobri que a Rita é um personagem deste planeta Globalizado, assim como a doce menina que curte brigas sangrentas, e o másculo marido que gosta de novelas idiotas.
Depois de tantas e assustadoras constatações, desejo perguntar ao Google: “Será que sou de outra galáxia?”. Mas temo que ele responda: “Hã?”.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

Não diga que não avisei



Ainda que não me enquadre mais na categoria de estudante, sempre que as férias escolares chegam sou instigada a dar uma fugidinha extra da fatigante rotina dos diplomados. Muito mais do que a gurizada fico criando possibilidades mirabolantes de passeios inusitados que pichem a alma com inscrições indeléveis do tipo “eu estive lá”.
Com o advento da internet, mapas, guias turísticos e opiniões de viajados, foram descartados. O “quente”, depois de ter decidido para qual destino irá seguir, é entrar nos sites que fornecem a lista completa de hotéis, pousadas, hostels, albergues, para você escolher o que preferir e couber no seu bolso.  E, para garantir que não está sendo enganado, informam preços, expõem fotos e, até, avaliações de pessoas que se hospedaram nestes locais. Enfim, só falta a velha frase: “Não diga que não avisei.”
E foi desta forma, vasculhando dentre as várias opções a que melhor se encaixasse no bolso e no coração (a famosa dupla custo-benefício), que li o comentário de uma pessoa achincalhando em seu melhor português a pousada em questão.
Tendo a ficar constrangida sempre que alguém lança sua ira sobre algo ou alguém na minha frente, mesmo que entre nós exista uma tela de computador e incalculáveis quilômetros de distância. Sinto-me envolvida na situação,como se tivesse culpa de algo que nem sei o que é, e devesse fazer algo se soubesse como.
Pois bem, a mulher (havia me esquecido de mencionar que o comentário mordaz partia de uma mulher) detalhou minuciosamente todos os itens de sua indignação ( raiva, zanga, repulsa?) sobre a (pobre, desprovida, indefesa?) pousada, ali mesmo, escancaradamente, via internet para que todo mundo lesse, inclusive eu e a minha tendência “cumpliciosa”.
Claro que antes de construir qualquer avaliação sobre um acontecimento pondero entre as razões e culpas envolvidas, que é para não sair tomando partido de um ou de outro pelo calor da exaltação. E foi deste jeito que me lembrei da mensagem intrínseca contida no site de hotéis: “Não diga que não avisei”.
Poxa, a senhora exasperada estava reclamando por serviços e acomodações de (no mínimo) três estrelas a uma pousada sem estrela nenhuma, composta de uma estrutura simples exposta (por fotos) para quem quisesse ver, e optar por suas tarifas 50% (no mínimo) mais baratas! Sem dúvida é mais um daqueles desatinos em que a pessoa quer dar pouco e receber muito.
Como cúmplice que não tem nada a ver com o barraco fiquei tentada a enviar um email à senhora equivocada sugerindo algumas regrinhas de como utilizar melhor o mecanismo da inteligência, mas acabei deixando prá lá, num surto de “eles são desbotados que se entendam”.
É que esta é uma mania nacional, imortalizada na figura de Gerson (e o seu vantajoso Vila Rica). Para quem não é do tempo em que cigarro era fashion, ele foi o cara que propagou a cultura do “pagando menos por mais” ou “dando pouco você merece muito”.
O pior efeito colateral (depois do câncer de pulmão) foi que o egocentrismo material gerou metástases nos dispositivos emocionais. Atualmente, a economia de si mesmo é a grande invenção que se carrega por todos os lados, sem fazer volume.
Doentiamente as pessoas foram economizando afetuosidade, poupando sorrisos, acumulando carinhos, contendo elogios, barganhando amor. Em contrapartida, o mundo foi sendo invadido por seres egoístas, carrancudos, frios, invejosos, solitários que vivem exigindo vantagens dos outros para si, e congestionando agendas de consultórios de psicanálise.
A lei de retorno é clara até para quem não sabe ler: Quer receber? Dê em troca.
Ela se aplica às questões materiais e às emocionais também. Desta forma, para não haver equívocos, confusões, frustrações e desilusões pesquise antes, procure bastante, decifre até o que não está nas entrelinhas, e jamais diga que não avisei.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

Sem rodinhas




“Ela continua desorganizada como sempre.” Começou a me contar, com esta frase, a visita a uma amiga em comum que não vejo há muito tempo. E, no desenrolar do relato, fiquei sabendo que nossa amiga desorganizada da adolescência, não só vive muitíssimo feliz em sua residência cheia de filhos, enteados, bichos, (pó), como conhece boa parte do mundo.
Tá certo que conserva até hoje o estilo “mochileira”, mas desta forma (de mochila) já visitou toda a Europa e boa parte dos Estados Unidos.
Mirei o chão, enquanto ouvia minha amiga contar sobre a nossa amiga que mantém o reboco das paredes da casa descascado; a pia cheia de louça (suja); o chão cheio de vestígios do último café da manhã (ou do penúltimo?), e enxerguei a grande e velha pedra dos caminhos:  APARÊNCIA.
Automaticamente, imperceptivelmente, inconscientemente...sei lá, juntamos paradigmas pela vida (feito pedras), os guardamos na mente (feito bolso), e seguimos pesados de tantos padrões.
Achamos que o cara de terno e gravata é mais feliz do que o cara de camiseta e boné, como se gravata e terno fossem garantia de alguma coisa (não é a toa que os maiores golpistas vestem terno!). Contudo, a questão aqui não é o terno, e sim, a ilusão causada pela aparência.
Praticamente reverenciamos mulheres belas e bem vestidas como se fossem mais importantes, inteligentes, interessantes. Sem termos trocado uma única palavra, colocamos beldades no topo da pirâmide social, simplesmente pelo visual.
Assim acontece com tudo que vemos. Carros belos e possantes nos levam a crer que transportam pessoas realizadas e felizes, casas enormes e impecáveis nos fazem crer que abrigam famílias perfeitas e afortunadas, e por aí vamos.
Enquanto a minha amiga organizada - dona de uma casa impecavelmente limpa de paredes de massa corrida intactas - relatava a visita à casa engraçada da nossa amiga desorganizada, pude visualizá-la chegando com sua bela mala de rodinhas (que raramente rodaram), e perguntei em silêncio a mim mesma: Qual das duas carrega menos peso?
Não pense que sou amiga traíra, que sorri pela frente e faz careta por traz. Tomei minha amigas como exemplo, mas me coloco no mesmo plano. No plano das pessoas que ainda são ludibriadas pela aparência. Que acham que pacotes bonitos contêm os melhores conteúdos. Leia-se aí: pessoas, carros, casas, empregos.
Não nego ser enganada pela impressão, sempre que vejo imagens de pessoas em aeroportos carregando suas bolsas, malas e valises decoradas com hologramas famosos (Louis de Tal, Victor das Tantas). É como se eles tivessem superpoderes! O superpoder da aparência.
Até entendo porque tanta gente vive querendo comprar “poder” falsificado.
Mas depois da visita da minha amiga à nossa amiga desorganizada (viajada e feliz), chutei de vez todo e qualquer resquício de aparência que ainda poderia me fazer escorregar.
Se tiver de optar entre uma mochila sem marca ou uma mala de rodinhas e hologramas cobiçados, (não penso nenhuma vez) escolho chegar mais longe.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

Vovó e o lobo


Há poucas semanas fiquei espantada e, consequentemente, inspirada por um crime feminino. A assassina das malas absorveu algumas horas do meu pensamento, disparou o alarme da sala dos meus assombros, furtou murmúrios de pavor e me rendeu uma crônica.
Há poucos dias, outra matadora tomou para si minha atenção, penetrando em minha mente, disparando a campainha do quarto das fantasias e me rendendo boas risadas.
A vovozinha homicida remexeu em cada uma das gavetas em que guardo conceitos, preconceitos, teorias, opiniões, causando uma bagunça completa.
Jamais imaginei que, algum dia, pudesse achar graça de um crime. Até assistir a entrevista da senhora gaúcha, de 87 anos, que acabara de matar o ladrão que entrou em seu apartamento, enquanto ela dormia. Claro que me dei conta da minha heresia.  Até olhei para o lado, a fim de conferir se alguém de carne e osso teria testemunhado o meu desatino, e para o alto... Mas como, igualmente, não havia nenhum sentinela celestial, soltei a gargalhada reprimida.
Devo estar perdendo o juízo, pensei durante o banho (tenho uma leve suspeita do que pode estar causando o disparo da conta de energia da minha casa). Eu, que há semanas atrás critiquei, com todos os verbos e adjetivos que o poder da escrita me concede, a mulher que matou o marido e o despachou em três malas para o mato; não consigo deixar de rir ao rever a confissão da senhorinha gaúcha, acometida de artrite e que mal consegue caminhar sozinha: “Pensei, é ele ou eu. Então, decidi que seria ele.” E, com um revolver calibre 32 consumou sua decisão.
Fui remetida à história do lobo mau (aquele que engoliu a vovó da Chapeuzinho Vermelho inteirinha),e voltei de lá com uma explicação plausível para o meu desvario.
Deve ser o cansaço de ouvir e ler sobre a crueldade do lobo ( das histórias infantis e de gente grande), sobre as vovozinhas indefesas ( vovozinhos, criancinhas, mocinhos, mocinhas...também). De saber da ferocidade com que os malvados têm adentrado nas casas, nos carros, nas lojas, nas vidas, e furtado cada um destes itens impunemente.
Deve ser a nostalgia dos tempos em acreditava em super-heróis, em mocinhos justiceiros, policiais leais e poderosos. A saudade de bater os pés e as mãos, ao ver o bandido levar a pior.
Sou defensora dos direitos humanos, repudio todo tipo de violência contra os seres,  dos hominais aos vegetais. Por conta disto, sou uma incompetente matadora de moscas.  Mas, convenhamos, de tanto ver a maldade fazer chacota dos indefesos, assistir a frágil senhora sair ilesa da cena do crime, me causou exultação (imoral?).
Ok! Confesso o meu delito (aplaudi a vovó). Mas firmo minha defesa no argumento de que o meu ato é resquício da minha formação em fábulas. Onde o lobo não saía ileso para contar a história, pelo contrário, ia parar no fundo do rio com a barriga cheia de pedras, que era para não correr o risco de voltar. E a vovozinha...vivia feliz para sempre!

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS