Homens ao mar


SENTADA em minha cadeira sob o guarda-sol, nada mais me resta neste típico verão sulista, mesclado de muito sol e muito vento, do que ficar admirando os corpos livres, leves e soltos que desfilam a beira-mar.
E o meu senso crítico (o qual tento em vão trancafiar), faz com que a minha atenção se volte para a profusão de barrigas avantajadas e corpos fora de forma que se expõem ao meu olhar.
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Você deve estar pensando que estou me referindo às mulheres, certo? Errou!Aos homens.
Os mesmos que deixam claro a toda hora o gosto por mulheres de “corpitcho” enxuto. Senhores seletivos que avisam às companheiras que não gostam de mulheres gordas. Maridos generosos que pagam academia para excelentíssimas ficarem do jeitinho que eles querem. Namorados exigentes que dizem “depois não reclame se eu olhar para as outras”.
É ao sexo oposto que estou me referindo e que tem deixado bem claro: “Seja como eu quero, que eu não ligo como estou”.
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Não consigo deixar de sentir uma mistura de indignação e revolta ao pensar o quanto o sexo frágil tem que ser forte, por ter o corpo comparado o tempo todo às gostosas da TV. O quanto é preciso jejuar, caminhar, correr, malhar, nadar pra chegar no verão do jeito que eles gostam, enquanto comem churrasco e bebem cerveja sem dar a mínima ao fato do verão estar chegando.
Quando ele chega, tememos ter que levantarmos das nossas cadeiras para sermos avaliadas, enquanto eles levam as gordurinhas para passear displicentemente, sem canga!
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Desde quando Adonis era gordo e Afrodite era magra? Quem inventou que a barriguinha do homem é charme? Quem disse que as mulheres preferem o Toni Ramos ao Rodrigo Santoro, o Danny De Vito ao Ben Affleck? Quem deixou estes senhores acreditarem que os seus corpos não possuem padrão estético? Quem esqueceu de lembrar a eles que o verão estava chegando?
As mulheres estão cada vez mais entrando no verão com tudo em cima, graças às condições que o mundo masculino impõe e padroniza. Bendita a academia, o silicone, a lipoaspiração, a cirurgia plástica, por que não? De certa forma, benditas musas televisivas que nos enchem de inveja e nos inflam o ego. E que ego!
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Sou contra o feminismo, que tenta extrair da mulher o que ela tem de mais belo, que é exatamente ser mulher. Ao mesmo tempo, repudio o machismo que impõe padrões que não cabem aos homens.
Aprecio por isso o mundo das aves, onde os machos são muito mais belos e as fêmeas sempre cobiçadas.
Senhores Pavões, no próximo verão estejam nas praias!

(Esta crônica faz parte do meu livro Na sala de espera que será lançado em breve)

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