Claudinha Pintadinha


Vira e mexe alguém me pergunta de onde vem a inspiração para escrever , e a minha resposta é sempre igual: “a inspiração está no ar”. Aliás, a inspiração não é um dom especial, pelo contrário, ela está aí todos os dias, a cada segundo cutucando a mim, a você,ao vendedor de laranjas, ao gari sambista. A diferença é que enquanto eu a aproveito para escrever,  outro para vender mais, outro para transformar o trabalho em felicidade, alguns nem ousam experimentá-la. Enfim, diria que para inspirar-se basta poder inspirar, estar vivo.
Mas o mais extraordinário da inspiração é a versatilidade com que ela se manifesta. Você  pode inspirar-se tanto com um acontecimento feliz, quanto com uma decepção devastadora. Ouso afirmar que é em meio às maiores tristezas que surgem as mais belas inspirações.
Foi assim que, entre  tirar a roupa da máquina de lavar e correr até a cozinha para atender ao pedido de socorro do arroz que estava prestes a ser queimado, ela  inspirou-me esta crônica: a Galinha Pintadinha, ou melhor, Claudia Leitte.
No dia anterior havia visto uma imagem  na internet  comparando a cantora (na ocasião de sua participação na abertura da copa do mundo) com a personagem de desenho infantil.  Achei engraçado e criativo, no primeiro momento e somente no dia seguinte, em meio aos afazeres domésticos (nestes momentos surgem as maiores sacadas) me detive a analisar mais profundamente o fato.
Claudia Leitte é uma mulher perfeita do ponto de vista externo. Tem um corpão, um cabelão, um bocão, um olhão, um vozerão... E por que, com todo este kit valorizador de seres humanos, ela desperta tanta antipatia? Chega ser mordaz a forma com que muitos a detestam. Digo muitos, pois certamente ela tem numerosos fãs clubes por aí. Admiração não é uma conta exata, tipo “ou oito ou oitenta”, se fosse assim Hitler não teria tido seguidores, nem certos políticos deste país.
Mas, como eu estava dizendo, se eu fosse Claudia Leitte, se tivesse aquele corpão, aquele cabelão, aquele bocão, aquele olhão, aquele vozerão, estaria me perguntando: O que é que a Galinha Pintadinha tem que eu também tenho?
Depois de ter colocado água no arroz e voltado à árdua tarefa de estender  vinte pares de meias (juntinhos!), se eu pudesse responderia a ela que, embora os figurinos de ambas (dela e da galinha) fossem da mesma cor, o problema não é o que elas têm comum, e sim o que elas não têm. Galinha Pintadinha tem personalidade, Claudia Leitte não.
Não estou tirando os méritos da moça, além do kit de exuberância ela possui talento. Só não entendo por que a baiana cismou de incorporar personalidades como a de Beyoncé, Shakira, Christina Aguilera, (a lista não para por aí) menos a dela. A magia não funcionou, ficou aguada, insossa, fingida, exagerada. Uma miscelânea de adjetivos que definem o estilo “O que é que é isso? De onde  você veio? Aonde está tentando chegar?”  A musa brasileira perdeu o caminho e o tino.
Não sei dizer que estilo musical Claudia Leitte deveria assumir, isto é problema dela e do empresário,  só sei que passa da hora dela parar de tentar ser quem não é, e ser ela mesma.
Uma pessoa desprovida de personalidade não consegue sustentar a imagem construída. A credibilidade cai por terra junto com o respeito e só o que fica em pé é um estereótipo capenga. E olha que estamos falando de alguém que nasceu com o “kit” virado pra lua, imagine a catástrofe que se dá quando meros terráqueos tentam ser o que não são.
Mas, no final de tudo, depois das meias desparceiradas e arroz chamuscado, despontou em mim uma admiração (jamais sentida) pela autenticidade de uma artista brasileira. Alguém sabe como posso conseguir um autógrafo da Galinha Pintadinha?

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