Dias atrás assisti ao filme “Deixe
a luz acesa” do diretor Ira Sachs, com a parceria do brasileiro Maurício Zacharias, que expôs corajosamente sua conturbada
relação amorosa com outro homem.
É um filme intenso e tenso. Não por causa da relação homossexual, pelo
contrário, o homossexualismo passa longe da estante onde se arquiva os
problemas mais insolúveis da vida. Os roteiristas deslizam sobre esta questão
social, deixando claro que este tipo de preconceito está muito bem assentado em
grande parte do mundo. A tensão se dá pelo envolvimento que um dos amantes tem
com o crack.
Espantosamente fiquei sabendo, através das redes sociais, sobre a repercussão
do último capítulo de uma novela brasileira
em que se daria (e se deu) o beijo gay. Achei uma coisa estranha, quase
bizarra, para não dizer patética. Pessoas, nesta época da existência humana, em
meio ao ápice das invenções tecnológicas e descobertas científicas ainda se
surpreendem, se chocam ou precisam levantar bandeiras em defesa do direito de
amar e, logicamente, beijar pessoas do mesmo sexo?! É como entrar no túnel do
tempo e cair no meio da manifestação da queima dos sutiãs. Senti-me vivendo em
plena década de 60.
Entre o casal do filme, a homossexualidade foi um aspecto facilmente contornado
e assumido. As cenas tórridas, os beijos e abraços explícitos, as manifestações
amorosas não foram feitas com a intenção
de chocar. O que chocou foi a luta incansável de um dos amantes para
salvar o parceiro do fim presumível da
droga. O que, igualmente, choca quando acontece na vida real com casais
héteros. Aliás, vii pouquíssimas coisas
mais chocantes do que isto.
As cenas de um baile funk é o que me
choca. A imagem de um traficante é o que me repugna. A visão de um assassino é
o que me revolta. A traição, a
desonestidade e a baixaria sem censura da televisão é o que me incomoda.
O foco está errado! Pessoas ainda
preferem ter um viciado ou um marginal com o seu sobrenome do que um
homossexual. Cada vez mais pais deste
Brasil afora terão de conviver com o fato de terem gerado um ser diferente do
que, retrogradamente, ainda se convenciona como normal. E ( pelo amor de Deus!), terão que assumir a
responsabilidade de amá-lo acima de
qualquer olhar torto, risinho de deboche e comentário inconveniente de parente
ou vizinho infeliz .
Era desta forma natural, que eu gostaria
de ver a homossexualidade ser apresentada no horário nobre. Como um caso de
família corriqueiro ( e respeitado) e não como uma anomalia a ser perdoada no
último capítulo por um pai (que não era nenhum exemplo a ser seguido) vencido
pelo cansaço.
Adoro finais felizes, quem não gosta? Chorar em cadeia nacional (preciso
admitir) é fenomenal!
Mas acho triste que os homossexuais
precisem estourar os números da audiência da Rede Globo para mostrarem que são
normais, apenas no último dia.
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