A oitava maravilha



Quando tempo é necessário para gerar amor, um mês, seis, um ano? Não faço a menor idéia, mas meu palpite diz que ele não nasce de uma hora para outra, no dia seguinte, na primeira semana.  Ainda assim, se vê casais que recém se conheceram, que mal sabem os sobrenomes, desconhecem os históricos de vida, os pontos fortes, as fraquezas, as virtudes, os defeitos, as manias, intitulando-se Amor um do outro.
Amor, para mim, é assunto de grande relevância, por isso sempre achei prudente usar muita cautela antes anunciá-lo aos quatro ventos. Sabe como é, de repente o vento muda, a maré engrossa e aquilo que você supunha ser amor, acaba se estatelando no muro da esquina ou morrendo na praia.  Sugiro analisar cada sentimento gerado pelo coração com o microscópio da razão e ainda deixá-lo em observação por algum tempo, para o caso de sofrer alguma mutação.
Trocando em miúdos, o amor é importante demais para ser utilizado com tanta falta de cerimônia.
É um tal de meu amor pra cá; meu amor prá lá;  da pessoa que acabou de beijar ao atendente do supermercado.  Parece até o “Vírus do amor” que Rita Lee cantou tempos atrás. No delírio desta febre as pessoas passaram a amar demasiadamente, quantitativamente, exageradamente... Superficialmente.
As publicações na internet não me deixam mentir. Frases, declarações, e todo um aparato de fatos e fotos são revelados para provar que o amor de ambos é tão belo e verdadeiro que merece ser tombado como patrimônio público. O público acredita, torce e aplaude, afinal, o amar é um espetáculo “hors concours”, contudo, vira e mexe, em curtíssimo tempo (para o parâmetro do amor) é surpreendido pelo perfil dos amantíssimos decretando-se em letras caixa alta: SOLTEIRO. Como um pintinho que mal abriu os olhos e sequer aprendeu a andar, o amor morreu na casca.
Uma situação pra lá de desnecessária. Um ti-ti-ti que poderia ter sido evitado. Um mico que não precisava ter sido pago. Se tivessem tido a tal cautela que sugeri lá em cima.
Pode parecer um discurso exagerado; que não há nada de errado em sair por aí dizendo que ama todo mundo; que é muito melhor do que sair odiando e chamando o cara de filho da mãe que ninguém quer ter, et cetera; et cetera... Concordo, em parte.  Porém - além de todos os inconvenientes citados - escancarar as portas do coração deixando circular livremente por ele qualquer sentimento que se pareça com amor, pode levar a não reconhecer o verdadeiro quando este bater à porta.
Amor é algo que todo mundo quer ver, experimentar, contar, fotografar. Nisto estamos de acordo. Só que ele não se encontra em qualquer boteco de qualquer esquina, não se expõe em vitrines, não entra em promoção, não dá em penca, não é inço.
O amor é a oitava maravilha do mundo! Dê a ele a importância que lhe cabe.
Enfim, depois de ter feito o devido reconhecimento, verificado todas as evidências e eliminado todas as dúvidas, se constatar que topou com um exemplar legítimo, curve-se a ele, reverencie-o, usufrua-o, e aí, se desejar publicá-lo faça-o. Adoraremos compartilhar.

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