Resiliência


Pouquíssimas pessoas despendem o tempo necessário para, verdadeiramente, conhecerem-se. Na convivência com elas percebo que poucas, muito poucas estão preocupadas em autoanalisar-se e, simultaneamente, melhorar-se.
Concordo que o conteúdo do parágrafo acima não seja algo muito agradável de praticar. Assumir as próprias falhas é penoso demais. Imagina corrigi-las! Melhor sumir. Fingir de morto. Continuar vivendo cheio de defeitos. Seguir apontando o rabo do macaco ao lado.
E, por estas e outras, o planeta continua sendo habitado por espécies estranhas. Que não fazem ideia do quanto são estranhas ou, se fazem, fingem não saber para não se darem o trabalho de deixar de ser.
Não estamos falando em santidade. Esta coisa de santo não é desta existência. Até porque se algum santo resolvesse viver neste mundo, perderia o título logo, logo. Tamanho o peso da provação. No mínimo, em pouquíssimo tempo, já teria decorado o dicionário terrestre de palavrões.
Estamos falando de autocontrole, apenas. Do simples controle sobre as fraquezas nossas de cada dia, que são somente nossas e ninguém, além de nós mesmos, precisa aguentá-las.  De gente que bota os seus monstros para espantar indiscriminadamente os outros pelas ruas ou, com maior reincidência, dentro de suas próprias casas.
Dificilmente alguém me dá crédito quando digo que num velho dia resolvi mudar. Entendo que isto não cause buchicho, fofoquinha, diz-que-me-diz-que. Sei que teria mais atenção se dissesse que já pensei em me jogar da janela do quinto andar. Ou que dormi num banco de praça. Sei lá. Falta inspiração quando o assunto é acabar comigo.
Sou resiliente demais. O que significa o contrário de duro, firme, rígido. Mas que não quer dizer que sou mole, boca aberta, tansa. Embora algumas pessoas já tenham me nomeado com algum destes adjetivos (as que consideram vantagem ser duro na queda).
Ter resiliência com a vida, significa ser flexível a todas as forças dispostas a nos derrubar. Faz com compreendamos as outras pessoas e nos curvemos às suas razões, do alto de nossa arrogância. E, (o mais importante de todos os atributos) faz com nos dobremos ao peso de nossas falhas e nos dispusemos a melhorar, nos reerguer.
Tenho plena consciência do mau humor que me acomete às vezes. Da irritabilidade que me possui de vez em quando. Da tristeza que me envolve. De todas as bolas fora. Dos erros...Enfim, assumo-me falível como qualquer ser que é humano e vive na Terra. Mas no meio destes surtos de gente, procuro manter incólumes os que não têm nada a ver com isso, mesmo estando bem próximos de mim.
Não se adquire a resiliência estalando os dedos. Tampouco existe uma árvore chamada resilencieira, de onde podemos colhê-la em determinadas épocas do ano. Não é vendida em cápsulas, ou em alguma mistura instantânea para se ingerir no café da manhã. Trocando em miúdos, tornar-se resiliente é dureza!
Exatamente por isso o mundo está tão povoado de gente irredutível, intransponível, inacessível, incorrigível. Jeitos tão fáceis de ser e tão falsos de existir.
Num dos meus discursos silenciosos (que faço em forma de poesia) alguém acrescentou: ” Jeitos tão humanos de ser”. Do que não discordo, mas entristeço e arremato:
Não precisamos ser santos, mas podemos poupar o mundo das nossas diabólicas fraquezas.

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