Há malas e “malas”



Não sou dada a falar de acontecimentos macabros, mas o último do qual tomei conhecimento (infelizmente, na hora do almoço pela TV do restaurante) mexeu demais comigo. Mais precisamente com a essência feminina que compõe a mim, e a todas as mulheres do planeta. A qual (eu acreditei um dia) nos torna, mansas, pacíficas, doces, delicadas... Tá certo! Posso estar exagerando um pouco, mas, certamente, não combinamos com o estilo Jack, o Estripador.
Foi o que eu ouvi (enquanto degustava a sobremesa de maracujá)? Aquela mulher, aparentemente normal, feita da tal essência que mencionei aí em cima, picou o marido em pedaços e o acondicionou num jogo de malas de viagem? A mãe de uma criancinha linda jogou o pai dela no mato dividido em três malas?!
O almoço não desceu, o maracujá azedou de vez, e o que deveria ter sido uma pausa no meio da correria virou sessão de filme de terror. Das minhas infelizes escolhas por estabelecimentos que utilizam a televisão como chamariz para a clientela (do jogo de futebol às catástrofes naturais, sociais e políticas) esta, sem dúvida, foi a mais indigesta de todas.
E o que teria esfriado tanto o sangue de uma mulher, a ponto de fazê-la cometer algo tão terrível? Quase engoli a colher de sobremesa, tentando decifrar o enigma da cruel matadora.
Descartada a hipótese de dinheiro, uma vez que a esposa assassina ficou pobre, além de presa, todas as evidências levavam a crer em crime passional. Ou, num desfecho à la Sherlock Holmes, a dama matou por ciúme, seguido de desespero, descontrole e fúria. A velha e cúmplice frase sendo, mais uma vez, encontrada na cena do crime: “quem ama mata”.
Nada poderia ser mais feminino não é, meus caros? Se não fosse pelas minúcias da ocultação do cadáver.
Não que matar seja concebível, principalmente à mulher, mas desde que o mundo é mundo, mulheres e homens, em estado de loucura, matam. O que não desfaz a monstruosidade do fato, mas o torna menos surpreendente. Se a vizinha mata o vizinho porque ele estava pulando a cerca, ficamos horrorizados, no primeiro instante; chocados, no segundo; estarrecidos, por um bom tempo. Contudo, o dispositivo de adaptação aos acontecimentos sórdidos, acaba fazendo com que assimilemos o fato. Em alguns casos, que até executemos a defesa da ré:
Mas também, coitada da vizinha! O safado do marido traia na cara dura e voltava para casa cheirando a perfume barato, cachaça barata e ainda lhe dava uns sopapos!
Agora, entender que uma mulher, movida pela paixão, seja capaz de transformar o amado em picadinho é definitivamente impossível! Pelo menos para mim, que não tenho estômago nem para esquartejar uma galinha.
E por falar em estômago, do restaurante fui direto para farmácia comprar algo que amenizasse os sintomas da indigestão. Mas não sem antes alertar a atendente do caixa:
— Moça, uma coisa estragou o meu almoço.
— Foi algum tipo de comida? Quis saber, prestativa.
— Não, foi a TV!  E a nova moda das mulheres usarem malas, que ela mostrou.
Ela me olhou com aquele olhar de ponto de interrogação, seguido de várias exclamações.
Saí sem maiores explicações e com a velha e cúmplice impressão de que, a única “mala” daquele recinto televisivo, era eu.

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