Um filme, para ser inesquecível precisa conter alguma
mensagem subliminar que ultrapasse a riqueza do roteiro e a competência do
elenco. Uma cena apenas, uma única frase, um instante. O “click” necessário
para despertar no subconsciente a emoção que cochilava no sofá.
Foi assim que “O jogo da imitação” entrou para estante dos filmes que irei
lembrar para sempre e, é claro, recomendar às pessoas. Não só pela história em
si, mas por um pequeno detalhe que, para mim (talvez somente para mim), tenha
tornado o filme ainda mais fascinante.
Sem saber que fora o escolhido pelo público como o melhor filme em competição
no prestigiado Festival de Cinema de Toronto (Canadá,) e que estava entre os
indicados ao Oscar 2015, mergulhei completamente na cinebiografia do gênio
matemático Alan Turing (impecavelmente interpretado por Benedict Cumberbatch).
Mas foi a figura feminina, não menos que a charmosíssima Keira Knightley que, além
de emprestar brilho, leveza e romantismo à trama, fez o “click” acontecer. Num
breve e decisivo diálogo, no qual Turing rompe o noivado, Joan descreve
magistralmente o amor.
“Não me importa que você seja diferente,
eu amo você. Eu me preocupo com você e sei que você se preocupa comigo. Cuidamos
um do outro. Somos felizes juntos. Eu quero ficar ao seu lado até o fim da vida”.
Não foram exatamente estas as palavras ditas por ela, mas foi a mensagem incrustada
em mim.
Tive que pausar o filme. Precisava de um tempo para analisar com cuidado cada
uma das frases ditas pela linda moça, no momento em que seu noivo assumia ser
homossexual. Numa época e num país em que isto era considerado crime.
Acreditamos que o amor deva chegar às nossas vidas de braços dados com a perfeição.
Ouvimos e assimilamos as mais burlescas teorias relacionadas a pares perfeitos,
almas gêmeas, caras metades... Sequelas dos contos de fadas.
Apostamos no amor cheio de pré-requisitos, conveniências, aparências e,
absurdamente, em tendências. “Gostaria de alguém assim, de tal jeito, com tal
formato...”. Caraca! Isto não é amor, é encomenda.
O amor não é premeditado. Não segue
nenhum manual à risca. Não está à mostra em catálogos. Pelo contrário, o amor
se mostra exatamente quando frustra nossas expectativas.
Amar alguém perfeitinho, bonitinho, riquinho, parece ser moleza. Só que não.
Primeiro, porque este alguém não existe. Segundo, porque ainda que existisse,
haveria uma grande chance de não rolar a química, entende?
Ah, a tal química! Esta sim é um enigma, que eu prefiro chamar de energia. A
energia que gera o amor.
Já aconteceu de, de repente, você se ver envolvido por alguém fora do catálogo?
O tal catálogo dos partidos perfeitos. E, inexplicavelmente, você começa a pensar
neste alguém mais do que gostaria? E precisa estar ao seu lado mais do que suporia?
E passa a se preocupar com o bem estar
deste alguém, mais do que do seu? E não imagina mais a vida sem esta presença?
Caso você não tenha desconfiado, isto é amor.
A Joan, do filme, conseguiu decodificar muito mais do que a máquina nazista. Ela decodificou tabus, restrições, impedimentos e revelou a
verdadeira mensagem contida no amor. O amor que preenche a alma e alegra a vida,
e é gerado pela outa pessoa. Que não é perfeita.
Claro que não é tão simples assim, estamos de acordo que ninguém vai ser feliz
o tempo todo para sempre. Mas é possível amarmos pelo resto das vidas, se
estivermos bem preparados para enfrentar os altos e baixos.
Quem assistir ao filme poderá constatar que ao fim de tudo, quando nada mais
fizer sentido e o final não for feliz, só restará o amor que geramos e somente
ele, nada mais do que ele, nos confortará.
Fica, literalmente, a dica.
Fica, literalmente, a dica.
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