Chô, satanás!


 
“JESUS não era só mansuetude não! Muitas vezes perdeu a calma, ralhou em alto e bom tom com os seus discípulos e imaginem o quanto deu de preocupação à Maria, sua mãe.”
Quando aquele estudioso de assuntos religiosos afirmou (com maestria) esta faceta oculta da vida de Jesus, eu me dei conta de que ele também era humano. Foi a glória!
Imagine o alívio que dá saber (no mínimo conjecturar) que o filho primogênito de Deus também subiu nas tamancas, rodou a baiana e perdeu as estribeiras.
Perceba o conforto que é pensar que Jesus, em sua teimosia de sair pregando por toda a Galileia, deixou Maria com o coração em frangalhos pelo medo de que algo acontecesse ao filho rebelde. Sinta o quanto isto não só nos aproxima do grande mestre, como sugere que ele já deu algumas voltinhas pelo nosso mundo nada angelical.
Porque (fala sério!) como é difícil carregar um par de asas nas costas! Como é impossível equilibrar uma auréola sobre a cabeça!
A gente até tenta... Sabe aquela história de vigiai e orai? Funciona. Até certo ponto, depois não tem jeito. A gente sem querer baixa a guarda e quando vê acontece o assalto dos pensamentos malvados. Aqueles que roubam a nossa tolerância, saqueiam a nossa paciência, furtam a nossa benevolência... E nos deixam nus sobre um par de tamancas perdendo, finalmente, as asas, a auréola e a compostura.
É quando a gente lança um palavrão, atira uma baixaria, dispara a metralhadora de sapos venenosos que estavam entalados na garganta... É quando somos humanos.
Não estou aqui dizendo para ficarmos tranquilos porque as portas do céu estão escancaradas para nós e que Jesus (o temperamental) está nos esperando encostado no batente. Sabemos que ele enfrentou quarenta dias no deserto com o Satanás atazanando e não sucumbiu à maldade. (Pelo menos é o que está escrito).
Estou apenas querendo sentir que quando os filhotinhos do mal vêm me espetar com seus tridentes afiados tentando a minha paciência e tirando-me do sério, posso lutar contra eles sem correr o risco de ir parar no purgatório.
Afinal, quem nos garante que Jesus em momentos de extrema tensão emocional não mandou o capeta (de volta) para o inferno?!

(Do meu livro Na sala de espera.)

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