A língua dos homens e das mulheres





SE arrependimento matasse... Estaria morta! Por que foi cair na besteira de dizer (quando discutiam a relação) que ele precisava chacoalhá-la, tirá-la da rotina, libertá-la da mesmice, Surpreendê-la?
– Poxa, amorzinho! Tanto estardalhaço só por causa de um sustinho?
Sustinho?! Frederico inventa de pular detrás do carro no breu da garagem, no exato momento em que o relógio da igreja começa a tocar as doze badaladas, para lhe receber com um horripilante BUUU! E acha que ela fez um estardalhaço?! Quase arrebentou a alça da bolsa de tanto bater nele.
Noites depois, quando o relógio da igreja finalizava a décima segunda badalada, entra em casa e encontra Frederico dormindo no sofá vestido de Zorro.
– O QUE É ISSO, FREDERICO???!!!
Ele pula do sofá, puxa a espada e desenha a letra “S” no ar.
– Desculpa, amorzinho! Era para ter sido um “Z”!
Será que tinha falado em mandarim? Será que era tão complicado para um homem surpreender uma mulher?
Na terceira tentativa, Frederico, em pleno domingo, entra porta adentro trazendo toda a família atrás de si. Pai, mãe, irmã, irmão, namorada do irmão, irmã da namorada do irmão, cachorro e... Praticamente, os papéis do divórcio para ela assinar.
– Mas amorzinho... Eu só queria tirá-la da rotina! (Preciso consultar o Tadeu).
– Desisto! Me rendo! Entrego as armas! Vou pra casa da mamãe!
...
Relatava toda tragédia para a mãe entre um gole e outro de chá, quando toca o som de mensagem no celular. “Eu não existo longe de você!” Era Frederico, enviando a música que ela tanto gostava.
Quatro minutos depois: “A solidão é o meu pior castigo.”
Três minutos depois: “Eu conto as horas pra poder te ver.”
Dois minutos depois: “Eu te quero a todo instante.”
Um minuto depois: “Nem mil alto-falantes vão poder falar por mim!”
Zero minutos depois: A campainha toca.
Frederico aparece na porta com um imenso buquê de rosas e a frase “EU TE AMO” escrita na testa em letras garrafais vermelhas. Ela se joga em seus braços declarando emocionada: “Também te amo, amor!”
Frederico mantém o abraço apertado, tentando engolir algumas pétalas que foram parar na sua boca e entender o acontecido. “Passei um tempão na escuridão da garagem esperando por ela. Me vesti de zorro só para ela. Levei minha família inteira para tentar animar o nosso domingo... E ela me deixou!
Agora mandei mensagens com a música boba do Claudinho e Buxexa. Apareci com buquê de flores e um ridículo ‘EU TE AMO’ escrito com canetinha vermelha na testa e ela se atira em meus braços me fazendo comer rosa, chorando e dizendo que também me ama!!! Quem entende estas  mulheres?!”(Sorte que o meu amigo Tadeu entende!)

(Crônica do meu livro Na sala de espera).

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