Até que a vida os separe




CONTRARIANDO as previsões pessimistas, desde o século XVI o casamento permanece na lista dos principais objetivos de vida dos seres humanos. Isto inclui homens e mulheres.
Ainda que classificado como uma instituição falida, a grande maioria das criaturas prefere casar e falir, a ficar solteiros por toda a existência.
Casamento é uma daquelas coisas que, por mais que digam que depois de certo tempo a gente se arrepende de ter feito, a gente teima e faz. Tipo: “Quem disse que não vai dar certo comigo, só porque não deu com a fulana?”
Sendo assim, milhares de teimosos do mundo casam em maio e em todos os meses, o ano inteiro. Muitos se arrependem, é claro. Mas muitos desbancam os pessimistas.
Quem é casado ou já casou e descasou, sabe que casar é bom. Unir as escovas de dentes, dividir o mesmo edredom, repartir as gavetas, juntar os CDs, os livros, as tralhas particulares... É deliciosamente romântico! A gente sonha com isto mesmo. Agora, se isto vai durar a vida toda, são outros quinhentos.
O casamento deve ser visto com paixão, mas também precisa ser encarado com a razão. Às noivas deslumbradas com a hora do sim, que curtem os preparativos das bodas achando que irão adentrar no mundo das nuvenzinhas fofas, onde não experimentarão mais nada pelo resto dos dias além do doce néctar do amor, é bom lembrar que isto só acontece na historinha da Barbie noiva.
Pezinhos no chão! Casar é bom sim. A lua de mel é doce de verdade, mas dia após dia o mel se junta às partículas naturalmente azedas da vida e quem não tiver um paladar resistente, não vai suportar mesmo. Já passa da hora de rever os conceitos. O que estão ensinando no curso de noivos neste novo milênio?
Como tudo na vida, casar é somar e dividir e ainda ter que subtrair. É estar contente e descontente. É receber e doar, concordar e discordar. É ser igual, mas na maioria das vezes diferente. É um jogo sedutor e envolvente que requer muita sabedoria e perspicácia, pois nele se pode ganhar ou perder. Embora, no final das contas, perder ainda é sair ganhando, no mínimo, maturidade e experiência.
Não é um mar de rosas, nem um céu feito de nuvens de algodão. Tem espinhos e chuva ácida sim. Não é fácil, ainda que valha a pena. Pode durar um ano, dez ou cinquenta, o que importa é que dure enquanto a chama arder.
Definitivamente, o casamento não está fora de moda. Agora, num mundo em que ninguém quer ser infeliz, sustentar a mentirinha “até que a morte nos separe” é pra lá de démodé.

(Cônica do meu livro Na sala de espera).

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