Rosa choque


POSTEI-ME em frente ao computador esperando que a minha mente, na maioria das vezes criativa, ditasse as palavras, as quais eu posaria aqui facilmente. Mas nada aconteceu.
Durante o tempo em que me atrevo no mundo da escrita pude constatar que uma vez por mês, durante todos os meses, sofro um bloqueio. Como se a fonte inspiradora das minhas idéias tivesse secado intermitentemente.
Com o teclado intacto, esperando pelos toques que versariam sobre algo; com minha mente criadora displicentemente inerte; com o meu corpo gritando para que eu largasse tudo, e me atirasse no sofá... Resolvi que o assunto em pauta deveria ser incontestavelmente um dos mistérios do universo feminino. Afinal, o meu alarme íntimo já havia disparado o aviso: 

 “Prepare-se, você está entrando na TPM. E não conseguirá escrever uma vírgula sequer que a agrade”.

É exatamente assim que acontece. Pelo menos uma vez por mês paro em frente ao guarda-roupa, olho para as dezenas de peças dependuradas, cada qual em seu cabide, e concluo desesperadamente
que nenhuma delas me cairia bem naquele momento.Passo a mão numa calça jeans e numa camiseta básica e me rendo ao período em que dificilmente algo vai me fazer sentir linda e maravilhosa. É o primeiro sinal de que tudo está começando.
Todos os meses eu passo por dias em que me torno insuportável a mim mesma. Mergulho num oceano de sentimentos que me leva ao extremo de ficar chorona e frágil, à irrequieta e impaciente, como se uma bipolaridade momentânea se apossasse da minha personalidade numa obsessão psíquica nestes dias nebulosos.
Isto pode parecer exagero para os olhos masculinos, todavia, sou capaz de apostar que as mulheres sabem com conhecimento de causa, o quanto temos que, literalmente, sangrar por sermos mulher.
O universo feminino glamouroso e fascinante, dentre seus vários caminhos e recantos aprazíveis possui uma estradinha turva e acidentada, na qual obrigatoriamente precisamos passar mensalmente.
É a jornada da TPM.
  
Com o passar do tempo e de observação forçada, sei exatamente quando tudo começa e acaba. Então vou logo avisando aos desavisados: Cuidado! Não provoque, estou rosa choque!
E não é que funciona? As pessoas com as quais convivo mantém a cautela necessária ao tratar qualquer assunto comigo nestes dias, mesmo que seja, simplesmente, para resolver o que teremos para o jantar.
Cria-se um cuidado especial em minha casa com a costumeira desarrumação dos quartos; com as toalhas largadas no banheiro; com a falta da descarga; com a falta de lembrar-se de apagar as luzes... Incrivelmente parece que todos ficam mais atentos aos pequenos detalhes e tentam, na medida do possível, não cometerem nenhum deslize. Afinal, um simples passo em falso pode detonar a mina. E lá vem bomba!
É assim desde meninas. Não podemos desviar da estrada sinuosa que se abre a nós mensalmente, mas temos que aprender lidar com ela. Devemos conhecer cada curva no mapa e ir logo avisando aos companheiros de viagem: Seguir uma mulher pode ter grandes riscos. Um deles é perdê-la na metade do caminho por alguns dias, todos os meses.
O segredo é ter paciência, pois ela volta. Sim, ela volta inteirinha depois da Tempestade Psíquica Mensal. Sem um arranhão sequer. Pronta para ser ela mesma até o próximo mês.

(Crônica do meu livro Na Sala de Espera)


 

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2 comentários:

Michele disse...

Lindo! Lindo!

Léia Batista disse...

Obrigada Michele!!! Beijos!

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