Na sala de espera



Nasci aparentemente normal, só depois resolvi que queria ser escritora.


SEMPRE gostei dos dias nublados, porém nunca havia parado para pensar o porquê da sensação de bem estar e tranquilidade que eles me causavam, simplesmente me sentia feliz.
Até que me peguei em devaneio num dia nebuloso e percebi que a diferença do dia sem sol e sem chuva, não é o que ele é, e sim o que ele não é.
Me acompanhe.
O dia ensolarado chama para a rua, para a atividade. O sol desencadeia um processo de ebulição da adrenalina que nos faz, literalmente, ferver. Se for verão, nos obriga a ir à praia, tomar banho de mar, tomar caipirinha, cerveja, sorvete... Mesmo que lá no fundo, no âmago de nossas vontades, desejemos mesmo é nos estirar numa rede e ler um bom livro. O sol vibra em sua energia e nos hipnotiza em seu poder. Uma loucura!
Por outro lado, num dia de chuva, toda a nossa energia vai se derramando gota a gota, até se perder completamente em forma de aguaceiro. A água que cai lá fora nos torna impotentes e servos de seu poder de nos trancafiar em casa. Aquele plano de sair na balada, correr na praia, visitar os amigos, ir às compras, visitar clientes, constantemente são adiados em nome da desanimadora chuva. Sua energia amorfa, literalmente, nos apaga. Uma nostalgia!
Já o dia nublado não causa furor nem apatia. A energia que ele emana é de calmaria espiritual e consensual das nossas vontades. Tenho a sensação de estar de folga e de poder escolher entre lagartear na rede, bater perna por aí ou trabalhar feliz.
Ele acalma a euforia proporcionada pelo sol e transforma a apatia causada pela chuva. É o caminho do meio. Uma tranquilidade!
Trazendo a influência climática para a vida prática, vivemos, ora em dias ensolarados (quando estamos alegres, cheios de energia, motivação, esperança, euforia); ora chuvosos (quando estamos tristes, desanimados, desesperados, deprimidos). Como estas alterações são mais constantes do que gostaríamos, é preciso saber lidar bem com elas. É aí que entram os dias nublados em nossas vidas.
Quando podemos apenas silenciar, ouvir a alma, conversar com o coração, acalmar as angustia, consolar a tristeza, encorajar o medo, motivar a coragem... Naturalmente e com tranquilidade.
Certa vez ouvi que os dias nublados são a sala de espera do mundo. Achei interessante.
Na vida, muitas vezes, necessitamos ficar um bom tempo na sala de espera para não fazermos exatamente nada. Apenas sentarmos e aguardarmos os acontecimentos, folheando as páginas vividas que já são velhas, mas precisam ser relidas, reavaliadas, renovadas. Descobrindo os segredos contidos nas páginas novas que estão sendo vividas. Projetando as matérias futuras de páginas que ainda estão por vir. E quando menos esperamos, uma nova história vai sendo escrita, sem euforia ou depressão.
Assim, entre dias de sol e de chuva dou-me o direito aos dias nublados, para sentar na sala de espera e folhear uma a uma, todas as minhas páginas, sem pressa.

(Esta crônica intitula o  livro que será lançado no dia 11/10/2011).



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