As castanhas e a vida



Esperava pela minha vez de ser atendida numa empresa quando ele me abordou. Um senhor simples à primeira vista, e educado à segunda impressão. Cumprimentou-me gentilmente e ofereceu uma castanha-do-pará, ainda envolta pela casca dura e marrom.
Aceitei o mimo e ouvi com atenção a explicação entusiasmada sobre as qualidades proteicas da deliciosa semente que vinham (vejam só!) acondicionadas no próprio fruto. Uma espécie de porongo que poderia ser transformado em uma cuia para erva-mate ou em um objeto decorativo, conforme o meu desejo ou necessidade.
Não é o máximo?!
Este senhor ofereceu-me gratuitamente uma amostra do produto. Deu-me uma prova substanciosa que pude sentir primeiro em meus dedos, logo após degustar  e, ainda, me deu a opção de criar uma cuia personalizada!
Adivinhem se comprei o fruto da castanheira? Lógico que sim. Eu e todas as outras pessoas que deram chance àquele homem apaixonado de provar o gosto da paixão pelo que faz.
Não há nada de excepcional nisto, pode-se pensar. É tão simples, tão óbvio e palpável o que aquele homem fez. Concordo com isto, e vou ainda mais longe, a simplicidade e a naturalidade estão fazendo muita falta neste mundo. A estratégia intimista utilizada pelo homem simples para despertar o desejo pelas suas castanhas deveria ser aplicada em todos os campos que povoam a nossa vida. Talvez assim, não ocorressem tantos erros, enganos e decepções.
 “Olha, estou aqui, querendo que você me queira, desejando que você me tome para você. Então, vou lhe mostrar o quanto posso somar em sua vida. As proteínas do meu coração proporcionarão energia e vitalidade para encarar todas as atividades do dia a dia. Estar comigo vai lhe garantir um abastecimento inesgotável de amor, cumplicidade e respeito. Além do que, você poderá me utilizar como companhia em todos os lugares que desejar estar ou conhecer. Estarei sempre junto para o que der e vier proporcionando muita alegria e felicidade, e dividindo o peso de cada tristeza ou dor que tiver que carregar. Experimente-me!”
Não seria o máximo?!
Pessoas se oferecendo com paixão. Provando o teor de sua honestidade e convencendo, encantadoramente, que ficar com elas é um ótimo negócio.
Afinal, morremos de medo de apostar naquilo que não conhecemos. Sentimos arrepio só em pensar em confiar e depois descobrir que era uma farsa. Sofremos por antecipação em nos permitirmos amar o que nunca vimos por dentro. Se pelo menos pudéssemos experimentar, provar, sentir para depois decidir...
 “Parece bom... Não, obrigada! Não estou precisando. Não sei...tô em dúvida. Hoje não, passe no ano que vem. Sai muito caro! Será que é isto tudo? Sei não...”
Certamente haveria muita propaganda enganosa, mas, sem dúvida, chegaria o dia em que você se encantaria tanto com a forma do “produto” se expor, que agiria exatamente como fiz com a castanha. “Amei! Vou levar!”

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