..RETICÊNCIAS...


Veio falar-lhe. Volta e meia isto acontecia. Ela não sabia de onde vinha, apenas que surgia sempre que parava para conversar consigo mesma. Quando as reticências interrompiam o ciclo e impunham a descontinuidade ao seu ser.

_ Com o tempo a gente aprende como são necessários os três pontos no meio da vida... Quando já não se sabe o que dizer ou como agir... E ainda há tanto a falar e fazer...

Assim discorria. Fazendo longas pausas no meio da conversa. Utilizando-se dos três pontos para dar vez aos pensamentos.

_  Viva intensamente, mas não ignore estes momentos... Não tente apagar os três suaves pontos para por logo uma interrogação, uma exclamação ou um ponto final. Permitas-se, as vezes, ser simplesmente reticente.
Ditava suas próprias teorias nas quais os três pontos colocados lado a lado significavam mais do que ausência do que dizer. Criara um pequeno espaço no tempo para guardar inúmeras possibilidades.
Momentos necessários entre uma ebulição e outra... Um chiar de emoções sem voz... Uma descoberta silenciosa... Um desejo contido... Uma angustia escondida... Um grito camuflado... Uma pausa no meio do caminho... Um discreto vapor invadindo o ar, anunciando que a fervura se deu... Um tempo...

_  Sábio é aquele sabe usar as reticências para enriquecer sua sabedoria.

Acabara de ouvir a voz do invisível... O que não queria dizer que era louca... Sentia-se plenamente normal numa noite de domingo... Amanhã seria segunda e tudo estaria diferente... Teria dado uma pausa no meio da vida para ouvir-se... Somente... Alguém falou com ela... Não sabia dizer quem foi... Ainda se encontrava reticente...

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